Faca na costela

Um rapaz me fez sinal e parei. Um moleque com lábio leporino e brasão da CBF tatuado no pescoço. Enquanto ele embarcava pela porta da frente, surgiu um outro cara, que estava do outro lado da rua, óculos escuros e capuz. Esse outro embarcou atrás, ficou sentado às minhas costas. A forma clássica de abordagem dos vagabundos que vão assaltar o táxi.

Bairro Cascata. Eles não falavam muito, disseram apenas que trabalhavam em uma obra. O rapaz do banco da frente parecia nervoso. Não conseguia colocar o cinto, tive que ajudá-lo. O outro, atrás de mim, parecia seguro, descontraído. Pelo retrovisor, notei quando tirou os óculos. Tinha um olho vazado.

Eles anunciaram o assalto no meio da subida da Mariano de Matos. O cara do banco de trás me puxou pela gola da camisa e encostou a ponta de uma faca na minha costela. No meio da ladeira! Minha cabeça deu um nó, errei a marcha do carro, quase descemos lomba a baixo! Um outro táxi que vinha atrás buzinou, o colega não viu (ou não quis ver) que eu estava sendo assaltado.

No mais, foi aquela loucura. Enquanto eu dirigia rumo à incerteza, o rapaz da frente pegava tudo que achava de valor. O vagabundo de trás gritava no meu ouvido que ia me matar se eu desse sinal para alguém, puxava minha gola, apertava a ponta da faca contra minha pele para provar que não estava brincando.

No final, enquanto eu negociava para que não levassem a chave do táxi, o cara do banco de trás decidiu que ia me matar. Mas seu colega achou melhor não, chamou a atenção para a minha cara: “o taxista que escreve no jornal, minha mãe não perde uma história”. Me deixaram vivo, acho que não queriam o Diário Gaúcho no pé deles.

Portanto, minha senhora, que está lendo minha coluna, que é mãe desse rapaz. Não é fazer fofoca, mas a senhora sabe que seu filho anda por aí, na companhia de um amigo com o olho furado, assaltando táxis? Que tal usar sua autoridade de mãe e passar um corretivo nesse marmanjo malcriado?