Sexta-feira, à tardinha, trabalhei bem, estou no Menino Deus sem saco para esperar uma última corrida no meu ponto. Resolvo dar o dia por encerrado. Pego o rumo de casa. Na esquina da Botafogo com a Azenha, o ponto de táxi está vazio. Não resisto a tentação de uma última corrida. Paro. Não demora, vem pela calçada um magrão, calça rasgada nos joelhos, boné e celular na mão. Vem olhando pro meu táxi. Pergunta se estou livre. Se pode sentar na frente, comigo. Me arrependo de ter parado ali. Não fui com a cara do sujeito. Tive um pressentimento ruim. Vou ser assaltado. Meio que instintivamente, resolvo jogar com o cara. Olho bem pra ele (um assaltante detesta ser mirado). Ele nota minha encarada. Pergunto se não nos conhecemos. Se ele não toca guitarra. Ele vacila. Toco um pouco de violão. Acho que a gente tocou junto, não? Continuo olhando-o fixamente, como se tentasse lembrar de onde nos connhecíamos. Ele tem uma tatuagem no pescoço, orelhas com um furo flácido deixado por alargador, os olhos vermelhos. Está trincado na droga!
sábado, 29 de junho de 2024
sábado, 20 de janeiro de 2024
sábado, 13 de janeiro de 2024
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
sábado, 30 de setembro de 2023
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Largando uma senhorinha no fundo da Maria Degolada, desci o que pude na vila, pra ela não se molhar muito. Um dilúvio desabando, o dia virou noite, um horror. A tiazinha pagou a corrida e sumiu na escuridão da quebrada. Eu manobrando o táxi, só pensando em sair dali, a chuvarada transbordando os arroios, os postes tortos ameaçando cair com o vento, granizo, zona de alta periculosidade... Foi quando surgiu de um beco um magrão fazendo sinal pra mim. Meio encolhido, protegendo-se da chuva guasqueada, do vento, um magrão volumoso, esquisito, mal iluminado pelos faróis do táxi. Impossível vizualizar direito. Eu ainda meio trancado na ruela da Degolada, não podendo nem acelerar pra fazer de conta que não vi o boneco. Bah, vou ser assaltado, alguma coisa me disse. Ferrou. O magrão mal vestido, bermuda, um pinto de molhado... Destravei a porta. Fazer o que. Assaltado, certo.
sábado, 29 de julho de 2023
sábado, 8 de julho de 2023
quarta-feira, 28 de junho de 2023
domingo, 25 de junho de 2023
Seu Rosauro não me segue no Face, nem no Insta, nem no site, o negócio dele (louvemos!) é presencial. Me viu num ponto, lá no Centro, bateu no vidro do táxi, perguntou se eu não era o taxista que escrevia no jornal — bah, década passada. Eu mesmo! Trocamos uma ideia, celebramos o encontro, a magia da escrita resistiu ao tempo, nos reconectou.
domingo, 18 de junho de 2023
quinta-feira, 8 de junho de 2023
terça-feira, 6 de junho de 2023
Dedo
segunda-feira, 5 de junho de 2023
domingo, 4 de junho de 2023
A noiva
quarta-feira, 31 de maio de 2023
sábado, 27 de maio de 2023
terça-feira, 23 de maio de 2023
segunda-feira, 15 de maio de 2023
quinta-feira, 11 de maio de 2023
segunda-feira, 8 de maio de 2023
quarta-feira, 3 de maio de 2023
sexta-feira, 28 de abril de 2023
quarta-feira, 26 de abril de 2023
sábado, 22 de abril de 2023
Hospital Ernesto Dorneles, meu táxi é o único no Ponto. Jesus chega fumando, faz um sinal, diz que já vai entrar, quer apenas terminar seu cigarro. Tranquilo, estou mesmo acabando de digitar uma mensagem no celular. Jesus traga o crivo com prazer, admirando a fumaça que se dispersa no ar. Ele está feliz, não tem como não notar. Jesus ri sozinho.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2023
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Temos um dependente químico que pega táxi aqui no nosso Ponto. Mora em situação de rua, abaixo da linha da pobreza. Ele vem sempre com o cachorrinho no colo e uma nota de dez na mão. Fui o primeiro a aceitar a corrida – poucas quadras, o dinheiro dá e sobra. Ficou conhecido do Ponto. Apenas um dos colegas não aceita levá-lo. Não aceita por causa do cachorro. Enfim.
domingo, 27 de março de 2022
Carnaval de 1986. Eu estreando na praça. Meu táxi era uma fusqueta toda baleada. Uma fila enorme de táxis na Avenida Borges de Medeiros esperando o estouro do desfile das escolas de samba, que acontecia ali atrás do Centro Administrativo. Eu finalmente chegando na ponta. Aquela multidão de foliões dispersando, cansados, arrastando suas fantasias, os táxis saindo um a u m, até que cheguei na ponta. Sou o carro da vez.
O mapa no retrovisor
A dor infinita do Quintana de não ter passado por tantas ruas de Porto Alegre, tanta gente que não conhece além do seu bairro, do seu apartamento, a imaginação entre quatro paredes. A cidade é tão diversa, tão cheia de reentrâncias, qual o mapa do poeta. Muito além dos pontos turísticos, o alto dos morros, a zona rural, a orla pra lá de Ipanema, a cidade invisível (que nem em sonhos sonhei), as quebradas da periferia. O táxi tem trânsito livre pela cidade de fato, a cidade real, crua e encantadora. A ideia de fotografar pelo retrovisor é mostrar o que passou, o que o táxi deixa para trás (poeira ou folha levada), enquanto o taxista procura ganhar a vida. A imagem refletida no espelho e além dele, o que está por vir, neste Porto quase sempre Alegre.Cidade do meu andar
(Deste já tão longo andar)
E talvez de meu repouso
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
Temos uma farmácia ao lado do nosso Ponto de Táxi. Fila o dia inteiro pra fazer teste COVID. Uma loucura. Há pouco, chego no ponto e tem um magrão fazendo uma transmissão, gravando um vídeo, sei lá. Ele segurava o celular na altura do rosto e falava com o aparelho. No exato momento que eu parei ele dizia todo animado:
quinta-feira, 6 de janeiro de 2022
Tô com dor de garganta, sintomas gripais. Fui no Postinho. Resultado do exame COVID sai em 3 dias. Fico em casa, por enquanto. Pra aliviar o coração, fiz um teste rápido de antígeno. Não reagente. Deve ser mesmo só a garganta. Mas o que eu quero contar é outra coisa.
segunda-feira, 1 de novembro de 2021
O homem mais feio do Brasil
A Rede Globo entrou em contato comigo. Primeiro por e-mail, pediram telefone e tal. Pensei, Rede Globo! Uau! Gente! Era a produção do programa Amor & Sexo. Eu pensei, bah, tô arrasando muito! Fernanda Lima, Rio de Janeiro, cachê, tudo pago, carro esperando no aeroporto! Gente, finalmente reconheceram meu talento! Passei telefone, endereço, CPF, data de nascimento, senha do banco, tudo! Pode me ligar, pelamor dedeus!Do outro lado da linha, a produtora do programa, cheia de dedos, escolhendo as palavras. Eles estavam produzindo um quadro chamado "o homem mais feio do Brasil", quadro que era comum no Programa do Chacrinha, mas que foi, por óbvio, abolido. A ideia era justamente provocar a discussão sobre a ditadura do politicamente correto. Enfim.
Mas por que eu?
Eles precisavam de homens feios. A ideia inicial foi o Fabrício Carpinejar, mas o meu amigo alegou não ter agenda (tá bom). Segundo a produtora, o Fabro teria me indicado, por conta de um texto meu publicado no jornal com o título "a arte de ser feio". Perfeito! Alguém inteligente o suficiente pra escrever uma crônica e burro o suficiente pra pagar esse mico em rede nacional (ela não me disse isso, claro). E lá fui eu pro Rio de Janeiro, andar de carrinho de golfe pelo Projac. Embaixo do braço, uns exemplares do meu livro, que eu ia distribuindo pelas redações dos programas. Tá valendo!
Agora, fiquei sabendo que o Carpinejar será o patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Nada mais Justo! Por certo, ele deve ter aceitado. Mas fica a dica, pessoal: caso o Filhote de Cruz Credo, por algum motivo, sei lá, uma diarréia mental espontânea qualquer, resolva não comparecer, já sabem: O FCC (Fabrício Carpinejar Cover) está aqui de bobeira, louco pra posar de escritor
quinta-feira, 30 de setembro de 2021
Isso a Globo não mostra