domingo, 17 de julho de 2011

Meu amigo careca!

Eu estava parado em meio à tranqueira da praça XV, caía uma garoa fina, daquelas de molhar bobo. Meu táxi estava preso entre dois ônibus. Enquanto a coisa não desatava, eu admirava a porta de um dos inferninhos que funcionam por ali. A julgar pela barulheira lá dentro, o movimento parecia bom. Era sexta-feira, fim de tarde, os operários deviam estar gastando o dinheiro ganho na semana. Estava pensando justo nisto quando dois sujeitos respingaram lá de dentro e vieram em direção ao meu táxi. Não tinha o que fazer, o jeito foi aceitar a corrida antes que eles botassem a porta do táxi a baixo.
Os dois estavam bêbados. O homem que sentou atrás usava um moletom com um capuz enorme caído sobre os olhos. O outro vestia um casaco enfumaçado, uma calça de abrigo e umas botas embarradas até o joelho. Ambos cheiravam mal e falavam com hálito de cachaça. Não estivesse preso no trânsito, jamais teria parado para aqueles tipos.
Para piorar as coisas, o bebum sentado ao meu lado implicou que eu era um taxista amigo que ele não via havia anos. Mesmo eu insistindo que não o conhecia, ele não se dava por convencido:
- Careca! Tu és o Careca, sim. Não tá lembrando de mim, Careca? Eu sempre ligava pra ti me pegar nas boates, eu tinha até o número do teu celular, mas me roubaram o aparelho. Pô Careca, não te faz!
A sorte é que a corrida era curta - até uma boate fuleira na avenida Farrapos. Chegando lá, porém, surgiu um problema. O bêbado não achou o dinheiro. Depois de revirar todos os bolsos, chegou à triste conclusão de que a prostituta do inferninho havia roubado todo o seu salário!
O bêbado queria que eu o levasse de volta. Queria reaver seu dinheiro para pagar a corrida. Sem chance. Já estava na hora de encerrar meu dia. Acordei o outro homem, que dormia no banco de trás, dei a corrida por perdida e botei os dois pra fora do táxi. Enquanto eu partia, o bêbado, entre lágrimas, pôs-se a meu dispor caso eu precisasse de um bom azulejista. E prometeu:
- A gente se encontra por ai, Careca!

8 comentários:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

começa a andar com as portas trancadas e, caso apareça algum mala, diz que está indo buscar passageiro que reservou por telefone...

Anônimo disse...

Carecas são sempre as primeiras e definitivas referências!

Bete Nunes disse...

Pior que o Eduardo tem razão... huahua...

Giane disse...

Oi, Mauro!

Olha a referência...

Beijos mil!!!

Adriano de F. Trindade disse...

Tchê, veja o lado bom: já pensou se esse Careca que ele conhecia fosse um antigo inimigo?
Antes um careca bem quisto que um careca desafeto, hehehehehe

Grande abraço!

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

ai, que saudades das tuas histórias, "Careca"!!! rsrsrs

Clarice disse...

Tá pensando o que esse cara? Que todas são iguais?
Abração.

vidacuriosa disse...

Me fez lembrar uma piada que meu pai contava: a Morte chegou em um povoado disposto a levar um da lista dela. Disse que iria levar um cabeludo, não o achou na hora e prometeu voltar. Pra fugir de seu destino, ele raspou a cabeça. Na volta a Poderosa, procurou, procurou e não achou o tal cabeludo. Pra não perder a viagem, decidiu: Já que não achei o cabeludo, vou levar este careca aqui mesmo.

Abraços