domingo, 9 de maio de 2010

A escolha da profissão

Acho que nenhum adolescente sonha em ser taxista. Eu também não sonhava, assumi essa profissão meio que por osmose, herdada do meu pai. A vida é uma estrada cheia de desvios, uma prova cheia de questões de múltipla escolha. O fato é que acabei parando no volante de um táxi e, por incrível que pareça, gosto muito de minha profissão.
Tenho uma passageira, adolescente, que levo uma vez por semana ao analista. Ela não gosta, mas os pais a obrigam. Aliás, desconfio que os pais são o principal problema da menina. Eles não a entendem, não a aceitam.
Assim que embarca no táxi, ela abre um estojo de maquiagem e começa a se montar. Coloca sombras muito escuras nos olhos, batom preto, gel no cabelo e outras coisas mais. Quando volta da análise, antes de entrar em casa, ela tira tudo. Volta a ser a menina que os pais gostariam que fosse. E isso não é tudo.
O pai, um importante funcionário da área diplomática, deu dinheiro para que ela fizesse um curso de Inglês. Ao invés disso, ela inscreveu-se em um curso de artes circenses. Está praticando malabarismo aéreo em tecido - uma modalidade de acrobacia em que o artista se pendura em uma fita de tecido e faz manobras no ar. Dia desses, fiquei para assistir a uma aula. Bem legal.
Acho cruel exigir que um jovem na casa dos vinte anos decida o que quer ser na vida. Quando tinha essa idade, meu pai sonhava que eu fosse funcionário do Banco do Brasil, mas sempre me apoiou em minhas decisões, mesmo quando resolvi que seria um taxista-escritor-músico-desenhista. Nessa ordem.
Nem todos levam às últimas consequência seus sonhos juvenis. À medida que o mundo gira, minha jovem passageira, por exemplo, pode perceber que a carreira diplomática tem lá sua graça, assim como a vida no picadeiro. Talvez, então, pai e filha se entendam.
Por falar em pai, alguém sabe quando abre concurso para o Banco do Brasil?

19 comentários:

Adro disse...

Sorte tem quem pode escolher alguma coisa. A maioria acaba sem escolha e assim sendo arrastado e engolido pela correnteza do rio que é a vida.
Boa semana Castro

Edmilson disse...

No seu lugar eu pensaria em fundar um sindicato. Que tal SINDTAXESCMUSDEN?
Quem sabe, em alguns anos, não teriamos uma entrevista no JN com Mauro Castro o Presidente do Banco do Brasil ?? Abraços. (PS: Se sobrar uma assessoria já sabe qual é o meu email.)

Matheus Freitas disse...

É eu sei quando abre o concurso, mas não conto.
Se vc deixasse de ser taxista, quem nos contaria passagens tão boas quanto essa?

Eliana disse...

Por falta de opção virei professora! Salvem os professorinhos! hahahahaha
Mas no fim das contas, gosto muito da minha profissão!!! Mas se pintar aí a presidência, num esquece dos seus leitores não, tá? Hahahahaha

Beijos!

Giane disse...

E no final das contas, seu Pai respeitou sua vontade e como consequência, você acaba por respeitar a vontade dele também...

O mundo gira, não é mesmo, Mauro?


Beijos mil!!!

Anônimo disse...

Você acaba de perder o da CEF! Pra sorte nossa nem sempre os filhos são obedientes. Você seri gerente geral ou diretos de Rh e eu nem conheceria você!
Posso dizer de cadeira que mesmo transgredindo regras olho para minha vida e me sinto responsável pacas pela minha felicidade. Talvez se tivese sido certinha demais hoje eu estaria numa sala de aula no intetrior, com meia dúzia de filhos mal cuidados(sou filha de professora, sei como é) e sonhando com essa vida que tenho.
Continue feliz com o que você escolheu. Já esse teu time...
Beijos.

M. Ulisses Adirt disse...

Mauro, não sei se vc chegou a ver, mas esse meu texto (http://incautosdoontem.opsblog.org/2010/04/20/sucesso-atraves-do-espelho/) serve como um adendo para seu cotidiano com essa passageira.

Mari Lopes disse...

Mauro, tu carregou o Deus da fotografia no teu taxi?? É verdade mesmo? Pena que não falastes com ele...

Eduardo Martins disse...

Infelizmente nossa liberdade é circular. Somos libertos dentro de um cercado. Enquanto isso, sonhamos ser o possível para nossa sobrevivência e uns fazem das oportunidades a rebeldia dos rebeldes de barriga cheia. Que essa jovem busque sua independência. E no desenrolar, busco a estabilidade do funcionalismo público, faço minhas análises no Seu Ernani (o dono do bar) e sonhando em ser escritor profissional.
abraço

Dris Ribeiro disse...

meu pai sempre quis que eu fizesse algo voltado pra engenharia, de preferencia engenharia florestal, mas sempre me apoiou em minhas decisões, e até sente orgulho.
quero um dia poder me formar em licenciatura em historia ou geografia, apesar da paixao pelas duas areas, hj atuo como designer grafico, amo o que faço, meu pai muito se orgulha, apesar de ter sonhado outra profissão pra mim.

Jeferson Cardoso disse...

Mauro, acho que você é o analista dessa jovem.
Aproveito a sorte de estar aqui em seu blog e lhe convido para opinar em meu trabalho que já dura quase três meses (O Diário de Bronson).

Abraço do Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

DÉBORA disse...

Oi,Mauro! Os preços daspassagens variam muito,depende da estação! =]
Abraços

Magui disse...

Pelo menos ela tem o dinheiro do pai para estudar o que ela quer e apostar na picaretagem do psicanalista.( visto que se monta para ir no horário de atendimento)

Fonte saber disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fonte saber disse...
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Fonte saber disse...

Ola Mauro, parabens pelo seu site. Sou taxista em Belo Horizonte e vivo acompanhando suas historias.
Em tempo, tambem tenho um site, nao como o seu, mas de utilidade publica tambem, tem por finalidade levar conhecimento gratis a todos, convido voce e todos a visitarem: Fonte do Saber - Mania de Conhecimento

Abraços e sucesso!

Paulo Alves disse...

Se você trabalhasse em no Banco do Brasil, como se chamaria sua coluna? BBTRAMAS?

Courage my love disse...

Muitas vezes os filhos são só o sintoma da patologia dos pais, mas fazer terapia nunca fez mal a ninguém, a menos que o terapeuta seja um desastre. Bom para a filha que se torna uma pessoas melhor e reforça a sua identidade e um dia destes manda um postal ao pai escrito em inglês para a ir ver actuar no Cirque do Soleil.

Bete Nunes disse...

Trabalhei muitos anos como gerente de banco e meu ex marido idem. Fiz Publicidade&Propaganda e ele Adm. Depois fiz Letras (...) Minha filha quis ser Nutricionista(?!). Sugeri que ela fizesse Adm, ou Direito, ou sei lá... qualquer coisa nessas áreas. Ela acabou de se formar em Nutrição, mas já vai começar outro curso(?), de Adm (?!!!).