segunda-feira, 6 de abril de 2009

O rei do candomblé

O passageiro que me fez sinal era uma figura exótica. Vestia branco dos pés à cabeça e usava um gorro tipo africano. Amparado por uma jovem, que lhe protegia do sol com uma sombrinha, ele embarcou com alguma dificuldade. As pernas não lhe respondiam bem, talvez, sequeladas por algum derrame cerebral. Toca para o Fórum Central.
Sentado no banco da frente, ele colocou a mão sobre o exemplar do meu livro, que trago sempre sobre o painel. Com ar curioso, leu o subtítulo em voz alta:
– Diário de um Taxista.
Percebendo que eu era o autor do livro, meu passageiro jogou a cabeça para trás e passou a me contar a história de um antigo taxista, o Roxo.
Segundo ele, Roxo nunca teve sorte com o táxi. Multas, acidentes, problemas mecânicos, empregados desonestos, tudo puxava o tal taxista para baixo. Apesar de tudo, Roxo conseguiu comprar um carro novo.
A fim de proteger o novo táxi, ele teria subido o Morro da Cruz para que uma famosa benzedeira jogasse suas rezas sobre o veículo. Na descida do morro, no entanto, Roxo se perdeu e capotou o táxi, que ficou pendurado na beira de uma ribanceira. Nesse momento crítico, o taxista teria tido uma revelação. Uma visão divina.
Daquele dia em diante, Roxo nunca mais encostou o dedo em um taxímetro. Dedicou-se à religião afro-brasileira. Com o dinheiro da venda do táxi, montou seu próprio terreiro de umbanda.
Ficou famoso. A sorte, que faltou no táxi, foi sua companheira constante na vida religiosa. Tornou-se um dos pais-de-santo mais requisitados de Porto Alegre. Viajou o mundo. Fez trabalhos para figuras importantes, como Perón e Fidel Castro, entre outros.
Depois de acidente vascular cerebral, ele diminuiu o ritmo. Vive recluso. As poucas vezes que sai de casa é de táxi, quando lhe convocam para servir de jurado em julgamentos, no Fórum Central.

17 comentários:

julio - o atormentado disse...

Mas que tipo de sorte tem esse tal de Roxo, que quando finalmente chega no "auge" tem um peripaque e fica meio troncho??? É aquela velha estória: gastou toda a saúde prá conseguir dinheiro e agora gasta todo o dinheiro para conseguir saúde...
Aquele abraço Dom Mauro!

Juliana. disse...

Vixe, esse Roxo precisa é de um banho de sal grosso!

Anônimo disse...

A vida espiritual tem desses infortúnios ele na posição de pai de santo deve ter entrado em alguma " demanda" para defender um filho de santo e às vezes acontece algo assim para que não aconteça algo pior, como por exemplo a morte. Mas faz parte da missão.
Agora Mauro, ele abriu um terreiro de Umbanda e você chama ele de rei do Candomblé?! São duas casas bem distintas, ambas muito respeitávies mas, distintas. Bjs

*LIS disse...

Eu diria que historias assim sao fascinantes ao olhar dos curiosis alheios!

Tiago Medina disse...

Falou a voz da experiência...
Tu não é azarado, Mauro, mas vai que esse não é teu futuro? hehehe

abraço

Anônimo disse...

Tomara que esse tal de ROXO nao tenha feito uma reza ou uma benzida pro teu carro...hehehehe

Fábio Rodrigo disse...

Deixa eu perguntar a você sobre a sorte..
O que acontece? Será MAuro o próximo Roxo?
hehehehee
Acredito que não.. Mais fácil ser um Veríssimo..
Abraços

Anderson disse...

História interessante essa de Roxo.
Excelente semana para você.

Karin disse...

Olá Mauro...Cada semana uma história mais interessante e curiosa.Abraços e se cuida.

Dalva M. Ferreira disse...

Perfeito, como sempre. Odeio você!

Carlinha disse...

"para que uma famosa benzedeira jogasse suas rezas sobre o veículo...", literalmente hein amigo? Jogou a reza e quase jogou o carro no precipício! E o que é ainda pior: entendeu aquilo como um sinal de que deveria fazer o mesmo com os outros, e agora ele é que joga as rezas.....cruuuuzes :)
Mauro, vc como sempre impecável! Beijos e bom feriado!

Anônimo disse...

E quem disse que a benzedura não deu certo? Viu só?
Esse negócio de reza e benzedura sempre dá um dinheirinho bom. Padres e pastores que o digam. Ainda é tempo de fundar tua religião, Mauro. Os Tropeiros da Cidade(não, isso parece dupla sertaneja), ou quem sabe Os Divinos Colorados, ou os Taxistas dos últimos dias quadrangulares da cientologia...
Abraço.

Plinio Nunes disse...

Um jurado pai-de-santo. O que deve saber de histórias sobre crimes, não está no gibi. Se soubesse por isso em texto e criasse um blog, estaria feito na vida, se é que não está.
Abrs.

EDUARDO POISL disse...

Nesta Páscoa que você seja convidado
Pelo nosso mestre...
A confraternização
Para que começamos a sentir
a presença dele em nosso irmão...
Para a busca da paz,
Da união.
Olhar para o lado dar um sorriso...
Um aperto de mão.
Que Jesus nos encaminhe
para um novo amanhecer...
Buscando no irmão o seu valor...
Que a Páscoa! Não seja só um dia,
Que seja todos os dias do ano...
De busca, pelo o amor...
O reconciliar...
A confraternização...
A harmonia...
Que o coelho não traga só ovinhos de chocolates...
Que ele traga em sua cesta...
O AMOR E A PAZ.

(Ducarmo de Assis)

Boa Páscoa para você e toda sua família

Giane disse...

Oi, Mauro!

Quem disse que Taxista não pode fazer outras coisas além de dirigir?

Taí Você que prova bastante o contrário!

Beijos mil e Feliz Páscoa para Você e sua Família!!!

Kinha disse...

Haha, excelente, Roxo-o pai de santo,este rapaz deveria sair em uma destas matérias estilo "Larguei o que sabia fazer para seguir o meu dom".

Tem umas duas semanas eu e meu marido fomos comprar livros na Saraiva, (meu marido não lê seu blog), qual não é minha surpresa quando ele aparece com 4 livros na mão, um deles sendo o seu, comentário do marido "Este livro parece ser bem bom." Resultado = Sou a nova possuidora de um exemplar seu.

Beijos

Fatima Rama disse...

Quando o destino está traçado não podemos fazer nada! há males que vem para o bem!! bjoo