Estava ocorrendo uma manifestação em frente à prefeitura. Em cima de um caminhão de som, uma dirigente sindical desancava os governantes locais. Cerca de cento e poucos gatos-pingados agitavam bandeiras e aplaudiam. Eu estava no ponto da Rua Uruguai, a poucos metros, observando a movimentação.
Uma conhecida casa de prostituição de Porto Alegre está usando um velho ônibus, com um sistema de som potente, para divulgar uma nova filial que está abrindo na Zona Sul da cidade. Esse ônibus parou no sinal fechado bem perto da tal manifestação. Dentro do ônibus, umas moças desinibidas dançavam ao som de uma música estridente. O som do ônibus abafava o do caminhão do sindicato. Tremenda bagunça sonora.
O que se passou, então, foi hilário.
Os manifestantes, já meio cansados daquela lengalenga política, viraram-se todos para o ônibus, para admirar as meninas que rebolavam ao som de Madonna. Empolgada com a inesperada plateia, uma das garotas chegou a abrir a blusa!
Sobre o caminhão do sindicato, os organizadores até que tentaram manter o nível da manifestação. A sindicalista que estava ao microfone, porém, resolveu apelar. Passou a insultar as garotas do ônibus, que estariam, segundo ela, “expondo-se feito pedaços de carne em um açougue” – coisa feia.
Foi aí que aconteceu o fato mais curioso de toda aquela cena já absurda. Quem estava nas imediações do protesto, na terça-feira passada, talvez, tenha notado o que notei: A maioria dos manifestantes (notadamente os homens) passou a xingar a sindicalista, num claro e constrangedor apoio às companheiras prostitutas!
Aconteceu tudo muito rápido. O tempo de um fechar e abrir de sinaleira. Tão logo o ônibus partiu, a manifestação foi retomada, mas já sem o ímpeto anterior. Nunca a frase de Che Guevara se aplicou tão bem: “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás”.
17 comentários:
Magnífica, Mauro! Hay que acordar cedinho para beber literatura quentinha na fonte. Parabéns, muito bem escrito, invejei.
Texto magistral, Mauro! Pena, minha passagem por POA foi rápida, não deu para nos encontramos, mas fica para a próxima!
Continue brilhando com seus textos.
Há braços!
Hahah coisas engraçadas que acontecem na cidade...
haha
hilario e surpreendente! Uma licao, ne?
Muito bom!
nuss!!! euri muitooo!!!
bjs
Mais uma das histórias fantásticas de Mauro Castro.
Eu não acreditaria nisso se não lesse no teu blog...
abraço
As cenas lembram os filmes italianos antigos, pelo inusitado, pela gritaria, pelo non sense. Muito bom.
Mais um mês e provavelmete eu vá estar vivenciando toda essa loucura descrita pelo blog.
Um casamento me levará a Porto Alegre.
Se vires um cara perdido com um carro de Blumenau, manda o ônibus pra lá...
Adorei a história...
Me fez lembrar das épocas de Movimento Estudantil... Claro que conseguíamos conciliar as duas "facções" descritas...
Abraços
Até visualizei a cena,rs. Hilária!
Você se cansa, mas se diverte.
Ah!é ao contrário Mauro. Quando você chega pregado em casa as oito da noite, nos já estamos nos braços do Morfeu.
Fico imaginando a situação, deve ter sido hilária!
Li outros textos de seu blog e gostei muito, estou te favoritando!
Excelente semana (que já está na metade!)
Abraços!
matou a pau Castro... mto bem bolado e tbm mto bem escrito... o blog mantem o nivel...
abraços
Fala, eu caro. Passei aqui pra dar uma lida no teu blog. Abraço do longínquo Livingstone.
Fui...
Livingstone.
Eu pagaria ingresso para ter visto isso.
Melhor ainda se eu tivesse escrito isso desse jeito. É quase um tratado social e me fez lembrar da Ideli se esgoelando e incomodando todo mundo em plena escadaria da matriz.
(Ia tudo tão bem até você puxar esse argentino, falso herói. Vale a frase, mas ele ...)
Beijos.
Deu pra visualizar a cena... caramba, deve ter sido hilário mesmo!
E Che tiha raqzão mesmo: hay que endurecer... sorte e saúde pra todos!
Queria ter assistido a cena...
Hahhahahahahah gostaria de ter presebciado isso.
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