Estou sozinho no ponto, desembarco. Ninguém por perto, só eu e a mulher. Ela está com cara de espanto, acha que o homem morreu. Resolvo ir até o container. Pressiono a alavanca com o pé e a tampa se abre. O container está quase vazio. No fundo, um corpo de homem encolhido, enrolado em um plástico transparente. Chamo por ele, hei, hei, opa, meu chapa! Nada. Dou uns berros. Nada. Dou uns chutes no container. O plástico vibra, sacode, o homem nada, o corpo inerte. Começo a me preocupar. Solto o pé e o container se fecha. O homem parece morto. E agora?
Estou pensando no que fazer quando sai de um prédio a secretária de um consultório de dentista, uma senhorinha de uns 70 e poucos anos. Eu a conheço. Ela está falando ao celular. Espero que ela desligue e relato o que está acontecendo.
— Tem um homem morto dentro daquele container.
— O quê!!!???
Não sei o que fazer, pergunto pra ela. E daí? Ligamos pra polícia? Ela pede para ver o homem. Pega no meu braço, pede que eu a acompanhe. Vamos até o container. Pressiono a alavanca e a tampa levanta revelando o corpo imóvel enrolado no plástico. A mulher põe a mão na boca, meu Deus! Nesse ponto, a outra mulher, a indigente, também chegou para acompanhar, mais uma moradora do bairro com um cachorrinho no colo, todos espiando o "morto". Será que tá morto? Resolvo repetir os chutes no container, o barulhão, blaan, blaaan, dou um grito. É quando o "morto" resolve reagir. Abre os braços, joga o plástico pra cima, dá um berro a plenos pulmões:
— PUTA QUE O PARIU! QUE MERDA! O QUE QUE É??!!
Eu levo um assusto! largo a alavanca, a tampa bate, dou um pulo pra trás! a secretaria berra! a indigente se mija! a mulher joga o cachorro pra cima! Saímos os três de perto da porcaria do container, com os olhos arregalados, os corações aos pulos! Cacete! Vamos nos afastando sob uma fila de palavrões que o "morto" disfere contra os miseráveis que resolveram aporrinhar o seu sono explêndido.
A secretária disfarça, volta ao celular, a indigente dá de ombros, a mulher resgata o cachorro que late para o container e eu volto para o meu táxi de onde nunca deveria ter saído.
Fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário