Rodoviária, volta de feriadão, nenhum táxi no ponto, eu paro. Embarca uma garota sozinha, bem jovem, quase criança, bem vestida, mas com pouca roupa para o frio que fazia àquela hora. Pergunto pra onde ela quer ir. Ela ergue o braço, aponta para o centro da cidade e diz apenas:
— Pra lá.
Pergunto pra lá aonde, mais especificamente. Ela pergunta se a zona sul não fica para aquele lado. Sim, fica.
— Então pronto. Me leva pra zona sul.
Pego a avenida Mauá e vou contornando o Centro em baixa velocidade, indagando minha passageira, tentando entrar na mente da menina. Ela está aberta ao diálogo. Diz que vem da cidade de Veranópolis, está procurando por um certo Alisson, que mora na zona sul de Porto Alegre. Sobrenome? Não. Endereço? Não. Já na orla do Guaíba, paro pra entender melhor a situação. Minha dúvida é: idade. Ela diz que tem dezoito, mas não tem como. Ela então confessa: quinze. Calculo que deva ter uns treze. Bom, temos um problema.
A garota insiste em procurar o Alisson na zona sul, diz que tem dinheiro, pede que eu a ajude. Se não acharmos, trago-a de volta para a rodoviária, mas já não parece tão segura, está deprimida, quase chorando, parece dar-se conta do quão estúpido é seu plano. Sou pai, coloco-me na pele dos pais da menina. Resolvo ajudá-la. Sigo mais adiante, contorno a rótula das cuias. Entro no pátio do DECA. Departamento Estadual da Criança e Adolescente. Peço que ela espere no táxi, vou procurar ajuda. Ela faz cara de choro. Vai ficar tudo bem.
Uma psicóloga convence a menina a desembarcar do táxi, está tudo bem, vão ajudá-la. Ela quer pagar pela corrida, insiste, diz que tem bastante dinheiro. Não me deve nada. Desejo sorte à minha confusa passageirinha.
Fim da tarde, meu telefone toca. O pessoal do DECA solicitando minha presença. Vamos lá. São os pais da menina, eles querem me agradecer, pagar a corrida. A mãe se abraça em mim aos prantos enquanto o pai pergunta meu pix, mas não aceito o pagamento — a forma como ele me ofereceu a recompensa, insinuando que dinheiro não é problema para ele, foi constrangedora, ofensiva. Lamentei pela menina. Perto daquele pai, o Alisson, da zona sul, talvez seja um santo.
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