domingo, 24 de junho de 2018

Dona Mariazinha, minha idosa passageira, contou que entrou ontem em um táxi que estava na fila para abastecer.
- Como assim, dona Mariazinha?
- A fila ia para o lado da minha casa, eu não estava com pressa. Foi ótimo, eu e o taxista conversamos bastante, adorei. Ele descia de vez em quando, empurrava o táxi, voltava e continuávamos papeando. Gente gritando, buzina, confusão... bem emocionante, me senti viva, sabe? Fazendo parte da história! Muito melhor do que ficar assistindo pela televisão. Eu contei pra Elza, minha vizinha, ela morreu de inveja.
- imagino.
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É incrível como, depois de um tempo transportando a mesma pessoa, o taxista passa a conhecer as manias do seu passageiro. O Sr C. é um cliente tranquilo: corridas longas, gorjetas eventuais. O problema dele é quando o taxista deixa a conversa escorregar para a política. Ferrou. Quando fala de política, Sr C. costuma cavocar o nariz. É batata. Mania. Como se a política lhe provocasse a secreção nasal, sei lá.
E depois não adianta o taxista desconversar, perguntar sobre a dupla Grenal, previsão do tempo... Quando começa a falar de política, Senhor C. enlouquece e perde o sentido da realidade, só fala e cavoca as narinas. Um horror!
O pior é quando, no final da corrida, ele que apertar a mão do taxista. Sem chance!
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Gasolina no posto em frente ao Hospital Psiquiátrico São Pedro, gente!!
Aproveitem e se internem.
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Minha passageira toda inspirada:
- O sol iluminando a 'cópula' das árvores, coisa linda.
- Não é?
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Na menopausa, a passageira comprou meu livro pra se abanar. 
Seja como for, obrigado.
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Táxi parado no semáforo, chamei a atenção do meu passageiro para um homem que vinha pela calçada rindo sozinho. Ninguém com ele, nem fone de ouvido, nem celular, o homem simplesmente caminhava sorrindo. Meu passageiro, talvez incomodado por ter que tirar os olhos da tela do seu smartphone, foi curto e grosso:
- Doente mental. Só pode ser.
Não me parecia o caso. O homem na calçada parecia normal (apesar de estar sorrindo), talvez estivesse apenas feliz, alguma lembrança que lhe ocorreu em meio à caminhada, um encantamento íntimo qualquer, sei lá, um simples sorriso não pode ser sintoma de loucura. Pensei em argumentar com meu passageiro, mas ele voltara a grudar os olhos no seu smartphone, hipnotizado, não parecia interessado em sorrisos alheios.
Vivemos tempos bicudos. Mostrar os dentes em público talvez seja mesmo uma temeridade.
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- E agora, mãe, sem internet, como vamos conseguir transporte?
- Usando o dedo.
- Dedo? É tipo um app?
- Veja, meu filho, a gente levanta o dedo assim e um táxi pára.
- Táxi??
- Olha aí, parou, isto é um táxi.
- Uau! Como é que isso funciona?
- O dedo levantado aciona uma espécie de rede, gera um algoritmo, digamos assim, e a cidade passa a lhe enviar táxis.
- Táxi! Maneiro! O que é aquilo em cima do painel?
- É um taxímetro, meu filho, um taxímetro.
- E onde a gente digita o destino?
- Basta falar para o taxista, ele conhece a cidade.
- Ele tem tipo um Google Maps na cabeça!
- Taxista, nos leve até a biblioteca pública.
- Biblioteca, mãe? O que é biblioteca?
- Um lugar onde você vai fazer o seu trabalho escolar sem internet.
- Jura?? Que dahora!!
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ACIDENTE
Acaba de acontecer. Meu táxi acaba de ser abalroado por uma louca sem noção que vinha em sentido contrário. Não tive o que fazer, vi que ela ia bater, apenas freei e esperei parado pelo choque. A mulher vinha, óbvio, mexendo no celular, tinha que ser! A tela iluminada brilhando nas lentes dos óculos escuros da louca. Ela sequer fez sinal de parar, assim como vinha bateu. Primeiro com os joelhos, depois falseou os saltos, desequilibrou-se, caiu contra o capô, os óculos entortaram, o cabelo desarmou, a bolsa caiu, mas o celular firme na mão - como um bêbado que se esborracha no chão mas não larga a garrafa de cachaça. Que coisa, que cena mais patética! Aonde vamos parar com isso? Não duvido que ela tenha postado foto do joelho roxo no Instagram #aloka #ridicula
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Parado no sinal, tamborilando as mãos no volante do táxi, volume máximo, eu acompanhando o Tim Maia, cantando e chacoalhando a cabeça: a semana inteeeira/fiquei te esperaaando... Parei quando percebi que, no veículo ao lado, uma senhora muito alinhada, muito sóbria, mãos grudadas na direção do seu Corola, me observava com evidente desprezo no olhar.
Eu e a madame nos fitamos por um breve segundo. Depois ela voltou a mirar o sinal vermelho com um um sutil movimento de desaprovação da cabeça, queixo espichado, as sobrancelhas erguidas, por certo reprovando a postura inadequada deste taxista cinquentão.
Imagina se ela me pega interpretando Fred Mercury!

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