domingo, 12 de janeiro de 2014

Partiu!

O motoqueiro passou a poucos centímetros do retrovisor do meu táxi, vinha rápido, costurando entre os carros. O trânsito pesado pedia cautela, mas a pressa é a tônica dos nossos dias. O motoqueiro levava uma menina na carona, capacete rosa, calça justa. A moto passou zunindo e se enfiou entre os carros que iam à minha frente.

Quem já assistiu a um acidente sabe como é. A cena fica na cabeça, reprisando mil vezes, o som do aço se contorcendo, vidro quebrando, metal arrastando no asfalto, um grito agudo de pânico. Tudo é muito rápido, mas as lembranças de quem assiste são em câmera lenta, detalhes em alta definição.

Quando a motoqueiro estava passando pelo meio dos carros, um deles desviou de alguma coisa e jogou a moto contra o outro veículo. O tombo foi feio. A menina que estava na garupa foi ejetada, o piloto ainda tentou segurar-se em um dos carros. Dava para imaginar o desespero sob os capacetes. Todos que viam atrás (eu inclusive) foram aos freios. O para-choque do meu táxi parou a centímetros do capacete rosa da menina.

A garota logo levantou-se e correu em direção à calçada, o piloto ficou estirado no asfalto, segurando uma perna e gemendo de dor. Todos saíram dos carros para socorrê-los. Um dos motoristas envolvidos anunciou que era médico. Tirou o capacete do piloto e pediu que ele ficasse imóvel, depois foi verificar a situação da menina, na calçada. Fiquei amparando o motoqueiro.

Foi quando a "vítima" me pediu que pegasse seu celular, dentro da sua mochila.

Como a situação já estava um tanto estabilizada, procurei pelo telefone, talvez ele quisesse avisar alguém sobre o acidente. Quando fui lhe alcançar o aparelho, porém, ele me pediu um favor. Pediu que eu fizesse uma foto dele deitado no asfalto e, com o próprio celular, postasse no seu Facebook com uma legenda tipo “partiu pronto-socorro!!”. Dedos em “v” e sorriso nos lábios.

Respirei fundo e voltei para o táxi. Tenho minha vida para cuidar.

5 comentários:

Dalva M. Ferreira disse...

Não se fazem mais vítimas como antigamente! Incrível.

Cirio Hubner disse...

É nestas horas que dá um misto de raiva, revolta e desanimo por existirem pessoas que valorizam tão pouco a vida, deles e dos seus semelhantes.

Josa disse...

E qual o problema, afinal, já que ele e sua amiga estavam bem à ponto de pensar nisso? Entendi que o post não fez uma crítica, me parece mais uma uma cronica. Aliás, o blog está de parabéns, é muito legal.

Já sobre os comentários que foram feitos e os que certamente estão por vir, tenho preguiça desse lance de não gostar da nova vida online.

Se liguem, acordem, o mundo mudou e as pessoas estão se relacionando e se comunicando de um jeito novo e diferente. Essa foi a forma do motoqueiro dizer para os seus familiares e amigos "ei, eu sofri um acidente aqui, mas estamos todos bem e eu estou indo para o pronto-socorro", é só um jeito novo, numa linguagem nova.

Abraços e boa semana à todos :)

#partiu cuidar da minha vida :)

ricardo garopaba blauth disse...

ja tive uma lambret que me ajudou na vida de empresário iniciante.....sempre respeitei as regras do transito.....hoje isto até é piada.......não acho graça.....

Inaie disse...

kkkkk

Perde a vida, mas antes tem que publicar no facebook