domingo, 24 de novembro de 2013

Fechando a semana

A sexta-feira tinha sido particularmente pesada. Aquele clima de desespero que toma conta das pessoas, aquela urgência de se livrar dos compromissos, o trânsito neurótico. Além de tudo, a chuva ainda tornava tudo pior.

Dentro do táxi, estacionado em frente a um prédio em ruínas, o taxista esperava que seus passageiros voltassem para pagar a corrida. Aquela que deveria ser sua última corrida da semana. Por um tempo, ele se distraiu com os garotos que jogavam bola em um campinho sob a chuva, mas o tempo passou, os vidros embaçaram, a Hora do Brasil começou e nada dos passageiros voltarem.

O taxista custou a se convencer que estava sendo enganado, que os dois travestis não voltariam com o dinheiro da corrida. Ele não queria acreditar que tinha caído num golpe tão manjado. Tantos anos de praça e ainda acreditar no “vamos pegar o dinheiro e já voltamos”. Quando resolveu agir, estava tomado pela raiva.

Lentamente, o taxista soltou uma corrente grossa que trazia presa ao banco do táxi, que usava para prender o volante. Fechou o táxi e resolveu achar os espertinhos, dar uma lição nos malandros. A chuva caindo, a corrente enrolada na mão, o cadeado balançando ameaçador.

Informou-se com os vizinhos. Não foi difícil localizar o apartamento dos travestis. Segundo lhe informaram, não era a primeira vez que deixavam taxistas esperando pelo pagamento. Avisaram que não adiantava bater, chamar, espernear. Já tinham visto a cena antes, eles não abririam a porta.

Antes da porta de madeira, havia uma pesada grade de ferro impedindo o acesso ao apartamento. Impossível passar. O taxista podia imaginar os travestis se divertindo com a gritaria que os cobradores costumavam fazer.

Decidiu não fazer escândalo. Passou a corrente na grade, fechou o cadeado e encheu o orifício da chave com a goma de mascar que trazia na boca. Para sair daquele apartamento, só se pulassem pela janela do quinto andar.

Aliviado, o taxista partiu rumo ao fim de semana.

3 comentários:

ricardo garopaba blauth disse...

sem dramas uma pequena trama alivia ter sido lesado......pena o fim de semna mais magro....a corrente....a corrente outra é comprada.......aquel já era.....srsrsrsrsrsrsrsr

Ricardo Mainieri disse...

Minha vingança será maligna...(rs)
Já viu se os travecas abrem e convidam o taxista para uma festinha desinibida...(rs)

Dalva M. Ferreira disse...

Meu único conto de taxista termina pior que esse. Deu cana...