domingo, 22 de setembro de 2013

Cinquenta tons de pele

O endereço onde solicitaram meu táxi era um prédio chique. Minha passageira era uma moça loira, bem vestida, vinte e poucos anos. Ela trazia uma criança no colo, uma mochila e uma sacola infantil. Desci para ajudá-la.

Enquanto a auxiliava, comentei que mães estão sempre sobrecarregadas. A jovem explicou que não era mãe, que o bebe era seu irmãozinho, na verdade. A criança era bem moreninha, o cabelo encaracolado, uma graça. Contrastava com a pele clara da irmã.

No instante em que fui arrancar o táxi, um carro atravessou-se na frente. Trancou a passagem. Um rapaz, negro, desceu correndo e veio em minha direção. Dedo em riste, mandou que eu ficasse onde estava. Parecia fora de si. Tranquei as portas.

A loira no banco de trás entrou em pânico, explicou que aquele era o pai da criança, que era violento, que já tinha dado parte dele na polícia. O rapaz batia no vidro do táxi, queria que eu abrisse a porta, a criança começou a chorar. Pedi que os dois se acalmassem.

Enquanto a moça ligava para a polícia, o rapaz esbravejava do lado de fora. Alegava ter direito a ver seu filho, criá-lo com dignidade, que a garota não merecia ficar com a criança, que ela era uma mãe desnaturada, que rejeitava o menino por ele ser moreno, por ser filho de um negro…

Como assim? Perguntei à minha passageira se ela era, afinal, a mãe da criança. Mas ela estava ocupada ao telefone, falava com a polícia, dava a sua localização, pedia socorro, aos berros. O marido tinha uma ordem judicial de manter-se longe dela. Começou a juntar gente.

A garota desligou o telefone e avisou ao rapaz que a polícia estava a caminho. Ela tremia e chorava, assim como o bebe. A discussão durou mais alguns minutos até que o rapaz, também em prantos, embarcou em seu carro e arrancou cantando pneus.

Silêncio.

A garota secou as lágrimas, respirou fundo, acalmou a criança e desceu sem dizer nada, sem esperar por ajuda. Esperei a porta bater e parti. Vermelho de raiva.

2 comentários:

Clarice disse...

Que bom se fôssemos como os cães , que não distinguem cores!

Abraço.

ricardo garopaba E DO MUNDO blauth disse...

resultado de amor?
se é, onde ficou?
será que existiu um dia?
foi uma relação sexual, ou um simples ato sexual?

teu texto enseja mais e mais perguntas?
coloca em outro, TUDO QUE TE PASSOU PELA CABEÇA, além da raiva.

deixa o escritor ficcionar.........

ha braços