domingo, 7 de julho de 2013

Velozes e angustiados

Eu rodava distraído pela Avenida Princesa Isabel. No banco traseiro, minha passageira aproveitava a corrida para finalizar a maquiagem. Seus cremes e pinturas apenas salientavam sua beleza natural que, por si só, já era suficiente para fazer a manhã valer a pena. Foi quando um carro enorme cortou a frente do meu táxi. Minha cliente tomou um susto!

O carrão seguiu acelerando, forçando passagem entre os outros veículos, insatisfeito com o fluxo lento do trânsito. Enquanto minha passageira voltava à sua maquiagem, expliquei que estava acostumado com aquele tipo de motorista. Minha experiência mostrava que, em geral, os carros maiores, mais caros, são os que andam mais atrasados.

Minha teoria era que isso tinha a ver com o excesso de dívidas, necessárias para pagar o carro novo, a casa nova, a mulher nova (mais jovem, mais exigente). Minha passageira interessou-se por minha filosofia barata. Deu a maquiagem por encerrada e me dedicou seu olhar negro de rímel.

Falei sobre uma prostituta de luxo que transportei certa vez, que avaliava o desempenho sexual de seu cliente só em olhar o carro que estava na garagem do motel. Quanto maior e mais potente o carro, mais trabalho ela teria para satisfazer o freguês. Minha passageira admirou-se com as teorias de taxistas e prostitutas.

Apesar de toda a pressa, o carrão não conseguiu avançar. Parei ao seu lado, no sinal vermelho. Ao volante, um senhor de cabelos grisalhos discutia ao celular. Assim como o carro, o relógio de tamanho excessivo, o telefone de tamanho excessivo. A cultura (brega) do excesso.

Assim que o sinal abriu, o tiozão buzinou com insistência. Ficamos no táxi imaginando o que o estaria angustiando tanto. Apostei na hipótese da mulher mais jovem e exigente.

O engraçado é que, ao final da corrida, minha bela passageira confessou que seu marido anda pensando em trocar o carro por um desses camionetões importados...

Sem comentários. Limitei-me a um sincero “boa sorte“.

8 comentários:

Inaie disse...

Quando eu morava em Bahrain, no Oriente Medio, via a "cultura do carrão"em todos os lugares.
Os donos dos carros caros se sentiam donos das ruas, com todos os direitos, toda a prioridade.
E no caso deles, nem era uma questão de corerr atrás do prejuízo, mas a mania de se achar 'no direito"!

Triste

Anônimo disse...

Muito boa. Nada como a prática da sua filósofa prostituta. Quanto maior o carrão, maior o trabalho. Disse tudo.

Dalva M. Ferreira disse...

Até imagino a cena! Beleza.

Ricardo Mainieri disse...

Filosofia profunda do filósofo motorizado Mauro Castro. Quando mais potente o motor, maior trabalho para ligá-lo...(rs)
No fundo é o que a psicologia chama de narcisismo. Preciso demonstrar que sou melhor, mais forte, mais potente que você. Que sou o máximo. Tudo para aplacar a terrível dúvida que paira no fundo de minha mente...
Que fiquem com seus carrões, sua arrogância e sua total falta de espiritualidade.

Abraço.

Ricardo Mainieri

Anônimo disse...

Adorei a filosofia do carrão! Nada mais certeiro... Carros novos, dívidas novas; mulheres novas, problemas maiores...rsrsrs

Abraço,
Silvia

Clarice disse...

E lá se foi ela com a pulga atrás da orelha e pronta pra descobrir a mulher mais jovem que ela que motivava essa troca de carro.
De vez em quando, rodando por aí, eu lembro daquele post sobre tamanho de carros e a relação com desempenho entre os lençois. Mesmo assim continuo detestando SUV.
Abraços.

Dona Sra. Urtigão disse...

Preconceito. Eu tenho uma SW4, enorme com a qual circulo pelas cidades. Mas sem ela e seus recursos, não chego à casa de meus netinhos mais velhos, ou ao sitio de um outro filho, especialmente se estiver chovendo. Ou não saio de lá se o tempo mudar. Ah ! Excessão à regra .

Vera Moraes disse...

Adorando seu blog. Tens uma santista fã! Abs!