domingo, 18 de novembro de 2012

Sono

Almoço em um boteco amigo, no Menino Deus. Basicão: arroz, feijão e carne. Baixa gastronomia. De estômago cheio, rodo até meu ponto. Torço para que haja uma fila, para que eu possa tirar um soninho dentro do táxi. Mas, nesses tempos de economia aquecida, chego e já estou na ponta.

O problema começa quando vem uma passageira que vai até o alto da Lomba do Pinheiro. Uma corrida longa. Muito longa. Uma passageira quieta, muito discreta, não conversa. Senta lá no cantinho do banco traseiro e é como se não estivesse ali. E acontece que ela vem sempre depois do meio-dia, quando eu estou de barriga cheia. Quando bate aquele sono.

Quando se está naquela bobeira pós-almoço, uma corrida do bairro Menino Deus à Lomba do Pinheiro dura uma eternidade. Pega-se a Avenida Bento Gonçalves e nunca mais se para de andar. Logo os olhos começam a pesar. As pálpebras doem, o sono ataca.

As quadras passam, os sinais todos abertos, a longa avenida à frente não acaba mais. A passageira, lá no seu cantinho, não desconfia que o taxista está em apuros. O barulho dos pneus no asfalto é como uma canção de ninar. Ligo o rádio. Piora: só música lenta. Mesmo aquela estação Rock’roll está no horário “baladas”. Esfrego os olhos. Abro o vidro, tento pegar um ar. Não adianta.

Subindo a Lomba do Pinheiro, estou à beira do desastre. Já cochilei umas duas vezes. A passageira, por sorte, não notou, absorta em seus próprios pensamentos. Vou lutando para erguer as pálpebras, que pesam uma tonelada cada uma. Felizmente, a corrida vai chegando ao fim. Juro para mim mesmo que, assim que a passageira desembarcar, estaciono o táxi e tiro um sono. Uns 15 minutos já servem. Preciso desesperadamente dormir.

A corrida acaba!

Sem desconfiar o perigo que passou, a passageira sorri enquanto me paga. Elogia minha forma suave de dirigir. Confessa que chegou a sentir sono. Veja só. Desejo-lhe uma boa tarde. A mulher fecha a porta e se vai.

E com ela, vai-se também o meu sono.

6 comentários:

Hugo de Oliveira disse...

Gostei...


abraços

Anônimo disse...

Passo por este aperto quase todos os dias meu amigo e a viagem é para região metropolitana.

Ju Armos disse...

Oh God!!! e vou mais longe ainda...sem saber o perigo que corri!!!kkkk

Kinha disse...

Sempre assim, o sono só vem quando não deve. Da próxima vez informe à passageira e veja se vocês batem um papo. rsrsrs Ou então carregue um cd de rock contigo!

vidacuriosa disse...

Grande Mauro. Embora também goste de ficção, curto mais ainda as histórias verdadeiras, dessas que a gente termina de lê e continua pensando. A de hoje tem uma importância fundamental, de lembrar os perigos. Uma sugestão que gostaria de te dar é uma mudança no cardápio, para uma comida menos pesada ou no horário, ou um descanso voluntário. Não dá para correr riscos nem levá-los aos outros. Sono e direção também não combina. Abraços

vidacuriosa disse...

Puxa, aqui não tem teclinha de editar, como no Facebook. "Termina de lê" é brabo. Eu queria ter escrrito "termina de ler", é claro.