domingo, 6 de maio de 2012

O fascinante Presídio Central

Peguei a corrida no fórum central. Meus passageiros eram uma mulher de cabelos grisalhos, uma jovem com um bebê no colo e um garoto de uns 12 anos de idade, que se sentou no banco da frente. Destino: Presídio Central.

A conversa entre os passageiros permitiu que eu entendesse a situação daquelas pessoas. A mulher era mãe da jovem e do garoto. Eles moravam em uma pequena cidade do interior. Estavam na Capital tratando do processo do filho mais velho da mulher, que estava preso. O bebê no colo da jovem era filho do presidiário e estava aos cuidados da avó, já que a mãe da criança tinha problemas com drogas.

A mulher estava desolada. Dizia-se esgotada. Tinha vergonha até mesmo de sair à rua, em sua cidade, devido à condenação do filho. Reclamava que, além de tudo, estava sendo explorada por um advogado inescrupuloso, que lhe cobrava os olhos da cara. Segundo ela, o filho seria vítima da maldade da cidade grande.

Enquanto a jovem cuidava do bebe e tentava consolar a mãe, o menino no banco da frente parecia fascinado com a metrópole. Só se interessava pela conversa quando faziam alguma crítica ao seu irmão mais velho, que o garoto tratava como um ídolo. Apontou o tênis caro, que o irmão teria lhe dado de presente. A mãe apenas balançava a cabeça, desconsolada.

Mas o que mais chamou a atenção naquela corrida foi a reação do garoto ao avistar o Presídio Central. Ele ajeitou-se no banco para poder enxergar melhor. Admirado, apontou para o prédio em ruinas, pedindo para que a mãe e a irmã olhassem bem. Com os olhos brilhando, alertou que o irmão estava no pavilhão “C”, que participava de uma das facções que controlavam aquilo tudo. O orgulho transbordando em cada sílaba.

O garoto foi o primeiro a descer do táxi. Estava ansioso, torcendo para que o deixassem entrar. A mãe, enquanto pagava a corrida, revelou-se preocupada com o caçula. Temia que ele seguisse o exemplo do irmão mais velho, o que seria o fim para ela.

Sem comentários, apenas desejei sorte àquela mãe. Ela vai precisar.

5 comentários:

Clarice disse...

A dura realidade do deslumbramento pelo dinheiro fácil. Não tem cura. Quem nasce com isso morre cedo. De droga ou de tiro.
Abraço

vidacuriosa disse...

Triste realidade deste país. Já não tem lugar para quem está preso e já vem uma fila se preparando para entrar. Não consigo entender como as autoridades não conseguem resolver um problema grave como esse. Todo mundo sabe que, sem trabalho prisional, sem controle rígido de celulares, sem estímulo à leitura, sem acompanhamento social do egresso, o índice de ressocialização será cada vez menor. Todo mundo sabe que, a cada dia, são postos na rua criminosos que pagaram suas pena e se acham aptos para reincidir. Temos um conjunto trágico de erros: educação, punição e guarda...

John disse...

Há muitas coisas que acontecem no táxi quando você está trazendo pessoas para visitar a prisão. "Meu marido é inocente, ele realmente é um homem bom, não é culpa dele"
Sim toda a vida humana vem através da porta de um táxi.
Graças a Deus por Google translate!

Bah disse...

às vezes não é nem o esforço dos pais em criar os filhos, simplesmente eles querem seguir o que outros os quais ele andam fazem... lastimável... e sofredor para essa pobre mãe...

Kisu!

Inaie disse...

meu coração partiu... temo pelo caçula, pelo mais velho que já está engaiolado, pela mae drogada, pelo bebê criado pela avó.

As vezes eu tenho a impressão de que muitos já nascem sem uma chance.