domingo, 25 de dezembro de 2011

Uma história sem moral

Não foi difícil calcular a idade da minha passageira: ela disse que se prostitui desde os 12 anos de idade e que trabalha nisso há 50 anos. Sessenta e dois, portanto. Ela estava indo ao médico. Disse que tem uma grave doença que a está deixando cega. Confessou, no entanto, que isso não a impede de trabalhar pois passa a maior parte do tempo de olhos fechados mesmo. Disse que não se interessa pela aparência dos seus clientes.
Depois de trabalhar nas melhores casas noturnas da cidade, onde era uma das acompanhantes mais requisitadas, ela contou que agora faz ponto na rua, à beira da Avenida Borges de Medeiros, "há 30 anos embaixo da mesma árvore". Foi mãe cedo, quando teve um caso com um jovem jogador de futebol, que mais tarde tornou-se um megaempresário do esporte. Minha passageira disse que orgulha-se de ter o nome dele na certidão do filho, mas que nunca pediu-lhe um centavo por isso.
Pode ser apenas uma prostituta decadente querendo impressionar um taxista, mas a mulher me pareceu verdadeira.
Por outro lado, temos uma passageira no nosso ponto que se relaciona com 2 homens casados, mais velhos. Há cerca de  2 anos ela engravidou provavelmente de um terceiro namorado, um jovem drogadito com quem anda sempre. Agora, a mulher explora seus amantes casados fazendo cada um deles acreditar que é o pai da criança - situação que eles aparentemente aceitam.
Dia desses, ela pegou meu táxi. Passou no emprego de um dos "pais" que lhe abasteceu de dinheiro. Depois, fomos até uma loja onde o outro "pai" a esperava com uma tevê de plasma na caixa. Sempre com o filho no colo, ela mandou que enfiassem a televisão no táxi e levou direto para o jovem delinquente, que deve trocar o aparelho por drogas.
O pior é que ela ensinou a inocente criança a chamar os 3 homens de pai, o que soa ridículo ao ouvido do taxista que a leva de um endereço ao outro.
Deve haver alguma moral nessas duas histórias, só não sei onde está.

7 comentários:

Anônimo disse...

Deve ter moral em alguma parte, mas também não consegui descobrir! Aproveito para desejar um BOM NATAL e ótimas crônicas em 2012 !!!! Forte abraço para você e toda FAMÍLIA!

Rick Basso disse...

Otimo texto, Mauro. O lance da moral foi muito legal. Deixaste uma questão subentendida. Moral: Conduta ou história? Adorei. Abraços!!

Clarice disse...

Vizinho, eu me arrisco a dizer que da primeira história a moral é que a garota ficou velha sem se preocupar com o futuro e ainda precisa trabalhar depois dos 55. Burrice da boa!
Na segunda, os asnos são os dois "pais". A criança, coitada, que vida terá?
Boa semana.

Maykon Souza disse...

Ótimo! A segunda se vingou dos homens pela primeira. Mas, a primeira mostrou que caráter vai além da aparência.
Abraço e feliz Ano-Novo!

Anônimo disse...

Gostei! Vidas e histórias cotidianas, com coitados como personagens principais e coadjuvantes! Na primeira história foi a escolha que ela fez e assumiu. Na segunda é tanto complexa quanto complicada, ou seja, envolve além dos dois pai-aços ou paitrocínios: Pois drogadição envolve muito mais do que lemos: esposas, doenças, criança, conflitos, ...Nem sempre termina bem. Espero por um final feliz! Já o pai jogador que não esteve presente...com certeza o nome já está na lista dequeles que tem pendências neste plano. Abraços à todos e tudo de bom e gostoso em 2012!

Diário Virtual disse...

Nossa... que loucura isso tudo. Tanbém tô procurando a moral até agora.... feliz ano novo!!!

Bah disse...

Nossa, que profissão mais interessante! Cada dia uma história nova... várias pessoas, várias casas, vários contos...

Adorei!

Kisu!