domingo, 11 de setembro de 2011

Bom trabalho!

Pela segunda vez na mesma semana, eu estava levando a passageira para o mesmo motel. Depois de identificar-se na portaria e informar o quarto em que estava sendo aguardada, a mulher foi autorizada a entrar. Enquanto descia do táxi, ela despediu-se desejando-me bom trabalho, ao que eu retribui com um automático "igualmente". Ela apenas sorriu e se foi.

Dias mais tarde, a mesma passageira apareceu novamente no ponto. Desta vez, trazia uma criança de colo e estava acompanhada por um soldado. Ao ver que era eu o taxista, lançou-me um sorriso amarelo. O militar era seu marido. Levei-os até uma escolinha onde pretendiam matricular a criança. Eram moradores novos no bairro.

Logo o assunto começou a circular entre os taxistas. Outros colegas de ponto também haviam levado a mulher para o motel. Estava claro que ela tinha um amante, ou estava fazendo programas. O marido militar saía sempre muito cedo, com cara de poucos amigos, arma na cintura. Mais tarde, a mulher pegava um táxi, toda cheirosa, e ia para o motel.

Quando o casal passeava pelo bairro, mãos dadas, filho no colo, os olhares de malícia dos taxistas eram inevitáveis. Alguns chegavam a fazer perigosos comentários entre si, que felizmente não chegavam até os ouvidos do marido. Estava claro que era uma situação altamente inflamável, qualquer risadinha mais alta poderia acabar em tragédia.

Certo dia, o casal embarcou no meu táxi. Depois de deixar a criança na escolinha, o marido sentou-se no banco da frente e pediu que eu tocasse para o motel. O mesmo motel. Enquanto dirigia, eu olhava pelo canto do retrovisor a mulher que se maquiava no banco de trás. Parecia descontraída.

Antes de deixar a mulher em frente ao motel, o soldado ainda perguntou se o cliente que ela ia atender era o "gordo tarado", se ela não tinha esquecido de trazer os acessórios. Antes de descer, a mulher soltou um longo suspiro e desejou bom trabalho ao marido, ao que ele retribuiu com um "igualmente".

13 comentários:

Anônimo disse...

Tudo muito civilizado, e para espanto geral, em Porto Alegre, terra de machos!!!! srsrsr

vidacuriosa disse...

Final realmente surprendente. Enquanto lia o texto, eu imaginava algo inusitado, mas não isso.

Leonardo Xavier disse...

A vida real é mais surpreendente que ficção!

Makoto® disse...

Ok. Se outra pessoa tivesse escrito ou me contado isso, eu não acreditaria.

Anônimo disse...

As vezes as aparências enganam... outras não. Excelente história.

Dona Sra. Urtigão disse...

hshshs

Clarice disse...

Parece que o soldo já não dá pro luxo, né?
Será que ela ganha 13º do marido-agente?
Abraços.

Clarice disse...

Sobre teu comentário no meu bloguinho,eu já fui abordada por um cliente de supermercado pra taduzir o que a mulher dele havia escrito na lista. Morri de rir da situação. Pelo jeito não trocavam bilhetes há tempos.
Já em casa o rapaz saía depois de ler a lista pra mim. A nora agradece, feliz, o treinamento.

Essa associação tem dicas e testes excelentes.
Abraço.

Elenilton Neukamp disse...

Olá amigo!
Hoje, depois da corrida, enfim li teu blog. Impressionado aqui com a qualidade dos teus textos, que são simples mas não superficiais. As histórias são mesmo impressionantes, e fiquei imaginando aqui se é tudo mesmo verdade ou se não há um tempero de ficção...hehe!
Mas sei bem o quanto a ficção anda atrasada em relação a este nosso mundo maluco!
Sigo lendo aqui.
Meu blog é:
http://eleniltonneukamp.blogspot.com

Ricardo Mainieri disse...

O cara é macho pra dar tiro em bandido, mas admite, diríamos, esse auxílio para aumentar a renda familiar.
Pior que existem caras, pelo menos escrevem nos sites por aí, que apreciam e olham outros manterem relação íntima com a sua mulher.
Tem gente que deveria reencarnar com alce...

Abraço.

Ricardo Mainieri

Adriano de F. Trindade disse...

Bom, essa história ilustra perfeitamente que a vida do casal alheio é problema deles próprios.

O motivo da fofoquinha geral, da maneira que isso funciona, o motivo para alguém repassar a notícia, seria algo como "bá, olha só como é corno o tal do militar". E a desgraça alheia impulsionava o tititi de boca em boca.

Com vosso relato, tal motivação para a propagação da fofoquinha caiu por terra completamente, pois o corno geralmente não sabe que é corno, e o militar não se revelou corno, mas sim cafetão. E a sociedade não aponta o dedo para o cafetão da mesma maneira que o aponta para o corno. Ser corno é motivo de troça, mas ser cafetão não.

Adorei o texto. Quem ler ele com a devida atenção, será presenteado com uma boa dose de reflexão, e tem a chance de rever seus conceitos.

Grande abraço!

ORACY disse...

Mauro, eu não duvido de mais nada. Tudo é possível. Tudo.

Dalva M. Ferreira disse...

Mas tudo mesmo!!!