domingo, 5 de dezembro de 2010

Todo cuidado é pouco

Manuel já era um taxista madurão. Mais de 60 anos, metade dos quais passados ao volante do táxi. Todo esse tempo de profissão começava a cobrar seu preço. Manuel já não era o mesmo homem de antes: dores nas costas, obesidade, hipertensão. Sua mulher vivia cobrando que ele tomasse vergonha, cuidasse da saúde, fizesse algum exercício, trabalhasse menos.
A morte de um colega de ponto foi um sinal de alerta. Também hipertenso, o colega enfartou dentro do próprio táxi e mandou o mundo às favas. A viúva não tardou a arranjar um substituto mais jovem, disposto a trabalhar menos e dar-lhe a atenção que o falecido não dava.
As pulgas atrás da orelha de Manuel cresceram. Ele, então, resolveu colocar um funcionário para lhe ajudar a tocar o táxi. Arrumou um motorista para o turno da noite. Um sujeito muito distinto, alinhado, educado até demais. Sempre bem vestido, anéis de ouro nos dedos, veludo na voz. Quem visse os dois, acharia que o motorista da noite é que era o dono do carro.
Quando Manoel chegava em casa, no fim da tarde, o motorista já estava em frente ao portão, esperando o táxi para trabalhar. Manoel acabou apelidando-o de "Tigrão", tamanho era o cuidado que o outro tinha com a aparência. Quando entrava em casa, Manoel comentava com a mulher coisas do tipo: "Acho que o perfume do Tigrão é francês!". O casal, então, caia na risada.
Certo dia, o motorista não estava em frente ao portão como de costume. Tinha entrado, estava na garagem da casa, consertando uma luminária com a mulher de Manuel segurando a escada! Ao ver o marido, a esposa teria exclamado:
- Olha, amor, o Tigrão sabe tudo de eletricidade!
O funcionário foi demitido na hora. Escorraçado, na verdade. Saiu portão afora debaixo de uma saraivada de sopapos. A pressão arterial de Manuel foi às nuvens.
Desde então, o taxista tem cuidado mais da saúde, trabalhado menos, mas não quer saber de motorista para dividir o táxi.

10 comentários:

Anunciação disse...

Todo cuidado é pouco,mesmo!hahaha

Anônimo disse...

Tá certo o Manuel: tema mais que se cuidar, ficar em forma para poder atender sua esposa em suas necessidades. Desde trepar na escada para concertar as luminárias como tb fazer outros servicinhos que com certeza ela necessita. Ha, tem também aquele outro tipo de serviço que todo marido tem que fazer em casa.
Manda o tigrão passear e faz ele mesmo os trabalhos.

Grande abraço

Lê Fernands disse...

ahahaha
acorda, manuel!



abçs.

Adro disse...

opa, grande irmão Mauro Castro. na loucura da vida acabei sem tempo pra ler o blog. hoje coloquei a leitura em dia e indiquei lah no twitter. tu continua mandando mto bem meu amigo. abração e vamos marcar alguma coisa. bj pra Gilda e Bruna. hasta!!!

Janaina Cruz disse...

Tadinho, mas o que o Manuel tinha contra quem sabia arrumar os pequenos problemas nossos de todos os dias da casa? rs

Vai de Táxi! disse...

Agiu certo o Manuel...
Daqui uns dias ele ia ta trocando outras coisas lá na casa dele.

Abraços mauro.

Clarice disse...

Ah, que machismo destemperado! E quem garante que antes de ir para o portão ele já não tinha atualizado o...digamos, satus da mulher? Só por que arrumou a lâmpada?
Vale o mesmo que pro futebol: quem não faz, leva!
Abraço.

vidacuriosa disse...

O Manuel se ligou quando viu a lâmpada na cabeça do outro taxista. Acho que o cara estava com alguma idéia luminosa e resolveu apagá-lo.
Abrs.

Adriano Trindade disse...

O Manuel sentiu o cheiro de queimado quando avistou o tigrão mexendo na instalação elétrica alheia, e tratou de tirar ele de perto da tomada rapidinho! hahaha

Delafonte disse...

"Chifre é coisa que se põe na cabeça" é muito ocidental e decadente. Procuro algo mais a haver com o Zen dos orientais. Só na cultura dos carinhas do outro lado do planeta há a salvação das dores do espírito. Incluindo o medo paranóico do chifre.