Esse caso se passou em uma encruzilhada pouco iluminada do Bairro Ipanema. O taxista bem que pensou em não fazer a corrida, mas o serviço estava ruim, precisava do dinheiro. Acabou cedendo à tentação: levou a batuqueira e seu cliente até a tal encruzilhada.
Era um trabalho grande. A mãe-de-santo explicou que faria o despacho em duas etapas, uma porção de oferendas de cada vez. Quando chegou ao local escolhido, a religiosa pediu que o taxista ficasse à distância, não devia interferir no ritual de forma alguma.
A mulher pegou uma sacola de oferendas e foi para a encruzilhada, dar início aos trabalhos. Deixou uma outra sacola, com o restante do material, ao lado do táxi, na calçada, para buscar mais tarde. O taxista, que não entendia nada do assunto, ficou dentro do carro, esperando o momento de levar os passageiros de volta.
A princípio, tudo ia bem. Na encruzilhada, a mãe-de-santo trabalhava freneticamente, charuto na boca, jogando pipocas para o ar e entoando cantos ancestrais. O taxista assistia a função de dentro do táxi, distraído, nem reparou no garoto que se aproximava correndo...
Foi tudo muito rápido. Era o caminhão do lixo reciclável fazendo a coleta. O gari passou, na corrida, e levou a sacola com as oferendas do batuque. Jogou-a dentro do caminhão e seguiu correndo rua afora. O taxista boquiaberto, demorou a entender o que estava acontecendo. Quando pensou em protestar, o caminhão já sumia de vista.
O taxista entrou em pânico, não sabia se corria atrás do caminhão ou se interrompia os trabalhos na encruzilhada. Resolveu, então, fugir dali. Ligou o carro e saiu fedendo. Primeira, segunda, terceira marcha, acelerou tudo o que pode até cair com o táxi na parte mais funda do rio Guaíba!
Já estava quase morrendo afogado quando acordou com a batuqueira batendo no vidro do carro. O despacho havia acabado.
9 comentários:
Ahahahahah! Sono em pleno despacho? Taxista calmo é outra coisa.
História bem contada. O final me pegou.
Abraços. E "dále" chuva!
Muito bem!Cada vez mais se aprimorando hein!
Excelente, Mauro!!! parabéns!!! adorei
O desconhecido mexe mesmo com o imaginário das pessoas. Chegou até dormir, mas dormir com o taxímetro ligado é melhor ainda. E como não arria despacho de dia, provavelmente, deveria ser bandeira 2. Sonhar não custa nada...
Suncê continua excelente, mizifio!
Geeeeeente, mais original impossível isso aqui heim!
A-d-o-r-e-i
beijos!
Muito bom. A cada post desses fico a me perguntar por que o pessoal de curta metragens ainda não se ligou em aproveitar essas ideias de cenas. Imaginem um filme rápido com uma bela trilha sonora. Por certo, vão esperar que o próprio Mauro estenda ainda mais a sua veia artística,abarcando também o setor de vídeos e filmes. Fica uma sugestão e um abraço.
Nossa, muito boa a ideia do amigo acima. Já pensou as suas histórias transformadas em curtas? #SUCESSOTOTAL.
Eu morreria de medo presenciando uma mãe de santo em "pleno" trabalho.
;*
www.empautahr.blogspot.com
Maravilha de conto! Dez!
Postar um comentário