domingo, 25 de abril de 2010

A terapia do berro

Nosso ponto está empenhado em trazer de volta uma antiga passageira, que não chama mais nossos táxis por conta de um incidente com um de nossos motoristas, o Carlão. Como supervisor do ponto, fui encarregado de investigar o assunto. Procurei pessoalmente a Dona Joaninha.
Dona Joaninha é uma senhora miúda, gordinha, de seus oitenta e tantos anos. Amável, ela me recebeu em seu aconchegante apartamento. Antes de contar o que havia acontecido, fez questão de servir-me uma xícara de chá. Com seus olhos miúdos e seu inseparável chapéu de tricô, Dona Joaninha contou sua versão dos fatos. Mais tarde, conversando com Carlão, foi possível entender exatamente o que aconteceu.
Carlão é um cara do bem, gente boa mesmo, mas muito nervoso. Depois de sofrer um infarto por conta do stress, foi aconselhado por seu médico a achar uma forma de liberar as tensões do dia a dia. O cardiologista lhe ensinou uma maneira bem fácil de fazer isso. Basta se concentrar, pensar em todos os problemas que o estão afligindo e, então, soltar um palavrão, o mais alto possível. Simples.
Dona Joaninha pega táxi uma vez por semana para visitar sua filha, que mora do outro lado da cidade. Senta no banco de trás, quieta, encolhida em seu canto, a ponto do taxista até esquecer que ela está ali.
Naquele dia fatídico, Carlão conduzia o táxi com os nervos à flor da pele. Estava com problemas em casa, tinha acabado de ser xingado por outro motorista. Com a cabeça a mil, parado em um semáforo, ele esqueceu que levava a passageira e resolveu soltar seu grito de alívio. Fechou os vidros, respirou fundo e soltou o berro, ao mesmo tempo em que esmurrava o volante:
- CA-CE-TE!!
Carlão só lembrou da Dona Joaninha quando ela deu um pulo no banco traseiro, abriu a porta do táxi e saiu correndo avenida afora.
Será difícil recuperar a confiança de nossa antiga passageira.

8 comentários:

Dogman disse...

Na condição de supervisor, devias promover uma acareação entre os dois. Esse pessoal mais velho fica melindrado por qualquer coisa.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

duvido que ela nunca tenha dito uns palavrões, mas às vezes assusta ser pego desprevenido por uma pessoa berrando...

Anônimo disse...

Dilma rousseff presidente do Brasil,crescimento e desevolvimento.

Anônimo disse...

Gente! Preciso lembrar de fechar todos os vidros na próxima vez que dirigir. Eu xingo o tempo todo, porque o que tem de burraldo dirigindo nessa cidade com ruas sem qualquer planejamento é de enlouquecer. Já fui até seguida por um motorista que "viu" a palavra que eu dizia e achou que era pra ele. Cacete é fichinha. Imagine se uma velhinha estiver no banco do carona de outro carro numa sinaleira e me ouvir!
Muito boa, Mauro! E o chá estava bom?
Abraços.
P.S.: Teu blog virou outdoor político? Mas só por causa do último Grenal, né?
;(

Dalva M. Ferreira disse...

Belo conto, muito bem escrito e ... ah! quase esquecia que é o Mauro!!!

Margarida disse...

hahahaha, muito bom. Adoro esses cauusos...hehehehe

Edmilson disse...

Com relação à crônica, nada a tirar nem pôr, como sempre. Com relação ao comentário do Ricardo Sales só um adendo : CA-CE-TE. !!!!!

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Até que não foi dos piores o palavrão... rsrsrs