
Era uma corrida para um bairro de periferia. Uma vila ao pé de um morro da zona leste. As passageiras eram uma senhora mais velha e uma jovem. Passava das dez horas da noite.
No fim da corrida, Toninho estacionou, deu o valor e ligou a luz interna do táxi. Enquanto a mulher pegava o dinheiro, o taxista notou que uma turma de garotos com idades entre oito e dez anos se aproximava. Um grupo de uns cinco guris.
Enquanto a mulher mais velha esperava o troco, um dos garotos abriu a porta traseira. A outra passageira desceu. Quando Toninho deu por si, o garoto que havia aberto a porta já estava embarcando. Os outros da turma o seguiram. Quando a mulher que estava sentada no banco da frente saiu do táxi, um dos meninos embarcou em seu lugar. De repente, o carro estava cheio de garotos.
A princípio, eram meninos fazendo algazarra, Toninho levou na esportiva. Sempre às gargalhadas, eles pediam que meu colega os levasse de graça até a parte alta do morro. Quando o taxista recusou-se a dar a carona, eles mudaram de atitude, zangaram-se. O garoto da frente passou a olhar pelo painel, como se procurasse algo para levar. O clima ficou tenso.
Toninho acabou levantando a voz e expulsou a turma do carro. De cara amarrada, os garotos saíram batendo as portas do táxi de forma a quebrá-las. Indignado, o taxista desceu, pensou em correr atrás das crianças, mas acabou desistindo.
Em um bar próximo, um homem, que assistira toda a cena, sorria. Parecia aprovar a malandragem, a arruaça dos garotos - fato que deixou meu colega ainda mais irritado.
Por coincidência, no momento em que Toninho me chamou para contar essa história eu lia, na capa do Diário Gaúcho, a triste notícia que um menor é morto por semana em Porto Alegre...
Passei o dia pensando a respeito. Tirei minhas conclusões, lógico, mas isso já é uma outra história.
10 comentários:
Muuuuuuitoooo triste essa história da vida real, Mauro.
Nem todos são como Toninho, nem todos os garotos são como aqueles...
Muito triste, cada dia que passa piora!
Infelizmente a atitude de muitos desses guris é uma atitude estimulada pelos mais velhos. Você sabe que fui professora por mais e uma década, eu era professora de escola particular, mas assisti cenas que só respirando fundo para engolir. Cenas de falta de respeito total, falta de princípios, falta de educação e de falta de caráter, e várias das vezes quando os pais eram chamados para discutir a atitude de seus filhos, em vez de se surpreenderem, surpreendidos ficávamos nós ao perceber que estes mesmos pais corroboravam com os atos de seus filhos. É muito triste,muito.
bah, pesado né mano? é meio que chover no molhado falar isso mas: SEM EDUCAÇÃO DE VERDADE essa historia só vai piorar... até quando???
abraços Castro... boa semana...
Se fosse no Rio,os meninos estariam armados...
A realidade da periferia de Porto Alegre é essa mesma, Mauro.
Vc. sabe, como taxista, que certos lugares à noite é de se pensar se vale a pena pegar a corrida.
A gurizada está, no mínimo, mal-educada.
Há um incentivo nestes locais á violência e ao desrespeito. Provavelmente, os pais destas crianças não são lá trabalhadores ordeiros...
Ricardo Mainieri
Uma cena muito parecida aconteceu quando fui levar algumas coisinhas numa creche e as meninas, de 4, 5, 7 anos esticaram o olho esperando convite para sentar no carro. Em menos de 5 minutos que ficaram lá dentro esvaziaram o porta-luvas. Na minha cara! Por sorte só tinha bloquinho, caneta, filtro solar e coisas dispensáveis. Fiquei tão chocada que travei.Não pelo valor, mas pela espontaneidade do ato.
A manchete me lembra Carl Sagan, que declarou certa vez, que cada vez que morre um ser humano há motivo de grande tristeza, pois cada um é exemplar único no universo. As palavras não são fiéis, mas o sentido sim.
O descaso com a vida é terrível.
Abraços.
Pois é...isso tudo acontece pq a meninada tem cobertura do Estatuto da Criança e do Adolescente,onde eles fazem arruaças e sabem que nada acontece.Infelizmente serão adultos sem carater e sem moral.Abraços.
È falta de DEUs no coração.
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