segunda-feira, 30 de junho de 2025

Minha mãe começou a dirigir já com seus 60 anos, pra levar meu avô para suas consultas. Já era quase uma idosa, portanto. Comprou um Chevettinho e foi pro trânsito. Dirigia mal, mas destemida, no ritmo dela, não se mixava.

Um dia, estou trabalhando no táxi, toca meu telefone. É um funcionário de uma concessionária que administra a rodovia RS40. Ele pergunta se sou o filho da dona Leni. Eu mesmo. O rapaz passa o aparelho para minha mãe.
— Oi, filho. O rapaz aqui do guincho quer saber se leva o Chevette pra praia ou de volta pra Viamão.
— Guincho? Praia??
— O reboque, o socorro, é guincho que chama?
— Mas o que é que ouve mãe? Onde tu está?
— Tava quase chegando no Balneário Pinhal...
— Caramba! Mas porque o Chevette tá no guincho?
— Acho que ele não está andando.
— Mas o que houve com o carro? Pifou?
— Eu "saí" da estrada.
— Saiu?? Como assim? O que ouve?
— O Chevette tá todo torto.
— Torto, mãe? Como torto?
— Amassado...
— Tu bateu com o carro, mãe? 
— Não bati.
— Ah, tá, mas...
— Eu capotei. As 4 rodas pra cima.
— Meu Deus, mãe!!

Fui para Viamão, final da concessão da rodovia, esperar minha mãe. Chegou na boleia do guincho, serena qual água de poço, como se nada tivesse acontecido. Explicou que levou um saco de uvas no banco do carona, ia comendo, mas acredita que havia uma abelha no saco. O bicho saiu voando pelo Chevette, a mãe estapeando, tentando espantar a abelha. Disse que cruzou a rodovia, caiu num barranco e parou com as rodas pra cima, pendurada numa árvore.

Dona Leni consertou o Chevette e voltou a rodar, até que não conseguiu mais renovar a carteira, com problemas nas vistas. O Chevette segue vivo, minha mãe ainda o faz funcionar, limpa os vidros, calibra os pneus, ouve um som no rádio, mas, agora, na segurança da garagem. Melhor assim.

Nenhum comentário: