domingo, 27 de março de 2022

 Carnaval de 1986. Eu estreando na praça. Meu táxi era uma fusqueta toda baleada. Uma fila enorme de táxis na Avenida Borges de Medeiros esperando o estouro do desfile das escolas de samba, que acontecia ali atrás do Centro Administrativo. Eu finalmente chegando na ponta. Aquela multidão de foliões dispersando, cansados, arrastando suas fantasias, os táxis saindo um a u   m, até que cheguei na ponta. Sou o carro da vez.

Um cara com uma fantasia de romano passa na frente do meu táxi e, ao tentar cruzar a Borges, é atropelado! Um carro o acerta em cheio! O cara gira no ar e se estatela no chão, bem ao meu lado! Correria, gente acudindo, o Romano ferrado, a perna quebrada! Fratura exposta! Caramba! O povo começa a gritar pra colocar no táxi, Pronto Socorro, Pronto Socorro, bota no táxi! Advinha qual táxi? O meu...
Jogaram o Romano no banco traseiro do Fusca (não usávamos o banco dianteiro). A perna em frangalhos, a pele rasgada pelo osso, o sangue pingando, um horror! Acelera! Peguei o pano que eu usava para lavar o táxi e dei para o cara cobrir o ferimento, estancar o sangue, sei lá, era o que a casa tinha para oferecer. E pé na tábua!
Entrei no Pronto Socorro, farol aceso, a mil por hora. Abri a porta do táxi e chamei por ajuda. Apareceu uma baixinha de jaleco branco, uma enfermeira caminhando devagar. Puxei a mulher pela gola, mostrei o Romano, pelo amor de Deus, eu aos berros com a baixinha. Ela na maior calma, acostumada com coisas muito piores. Quando a mulher olhou para o pano podre que eu dei para o cara colocar sobre a ferida, ela enlouqueceu. Começou a me putear, me soltou os cachorros! Como é que eu uso um pano sujo daqueles sobre uma ferida aberta! E bla, bla, bla... porque os micróbios, a infeção, a esterilização... O Romano esquecido dentro do táxi e a baixinha me esculhambando, e eu revidando, batendo boca com aquele um metro e meio de enfermeira. Mó baixaria!
Passados mais de 30 carnavais, eu e a baixinha dos micróbios continuamos batendo boca. Só que, no lugar do Romano, agora é o nosso gato que assiste à discussão.

3 comentários:

Eliana disse...

Ahhh que história maravilhosa!

Parabéns pelos 30 carnavais passados juntos! \o/

Um abraço!

Ps 1: e como ficou a perna do romano no final das contas? rs Tomara que bem!

Ps 2: imaginado a cara do gato assistindo as discussões do casal... rs

Anônimo disse...

Pau no seu cu

Mauro Castro disse...

Do Romano não soube mais nada hahha
Nosso gato (Tuco) só mia e dorme.