sábado, 7 de maio de 2016

Tivemos aqui em nosso ponto de táxi, há muitos anos, um passageiro que cometeu um crime. Matou um homem. Um caso passional, rumoroso à época. Ele foi a julgamento, condenado, tentou fugir para o exterior, foi pego, baixou o presídio.
Pois bem, esse homem embarcou no meu táxi hoje. Foi uma corrida em clima estranho, pra dizer o mínimo. Não falamos no crime. Cumprida a pena (sobre a qual também não falamos), ele está tentando retomar sua vida, da forma que pode, como um anônimo vendedor de pneus.
Desejei-lhe sorte.

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A garota embarca no banco traseiro, dá de cara com o expositor do meu livro, pensa um pouco e exclama:
-- Bah, tu és o TAXITRAMAS, o cara das fotos de retrovisor! Te conheci na Austrália! Eu tava lá, com o Ciência sem Fronteiras, e o pessoal da UFRGS começou a comentar tuas fotos de Porto Alegre... Prazer!
Desculpem se fico me exibindo, mas precisava compartilhar esse momento.

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A passageira com uma bolsa cheia de medicamentos, uma farmácia ambulante. Explicou que seu marido morreu recentemente, sobrou uma quantidade enorme de medicação. Propôs pagar a corrida com remédios. Tinha de tudo: desde analgésicos, ansiolíticos, até supositório siliconado e um tubo semi novo de pomada pra hemorróida...
Preferi receber em dinheiro.

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Magrão num Palio branco é o primeiro no sinal fechado, eu atrás com meu táxi. Percebo que ele está com a cabeça baixa, postura típica de quem está mexendo no celular. Pensei: o sinal vai abrir e ele não vai arrancar. Dito e feito.
Dei um bipe bem curto na buzina, ele se antenou e foi.
Mais adiante, novo sinal e a história se repete. Novo bipe na buzina. Desta vez, porém, o Magrão levantou a cabeça, viu o sinal verde, mas voltou a mexer no celular - uma última curtida, sei lá.... Foi quando eu emputeci e enfiei a mão na buzina de vez. Quem nunca?
"Nosso lado animal, vez em quando, precisa tomar sol."

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo projeto e iniciativa.

Branco Leone disse...

Passei meia hora aqui no teu táxi. Prazer por enorme reler um heróis da resistência, um dos poucos que sobraram daquela época em que éramos inocentes e blogávamos, escrevíamos, publicávamos. Muito bom ver um volume 3. Quero um. Manda a conta por e-mail.