domingo, 17 de abril de 2016

Você precisa ingressar em uma avenida movimentada na hora do rush, está com o carro apontado, pisca ligado, esperando a gentileza de um outro motorista. O tempo que você vai levar para conseguir sua chance depende, basicamente, do seu carro.
Sim, a gentileza é seletiva.
Caso esteja "pilotando" um Mercedes, a generosidade não tardará. Sinais de luz, dedinhos de positivo, sorrisos cúmplices. Se o seu carro for um Chevette velho, tenha paciência, olhares esquivos não perceberão seus apelos.
Agora, se você estiver dirigindo um táxi. Esqueça, meu filho. Nem a figa pendurada em seu retrovisor vai lhe ajudar nessa.

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Saindo da padaria sou abordado por uma moradora de rua. Ela pede umas moedas, alega ter cuidado do táxi, me chama de amigo, diz que está de aniversário hoje. Desvio dela e entro em um pequeno corredor que leva ao banheiro da padaria.
Quando volto à calçada, a mulher ainda me espera. Quer dinheiro prum café. Decido premiar sua perseverança. Enquanto recolho um punhado de moedas menores, ela faz o sinal da cruz e aponta para o céu. Antes de lhe passar os ferrinhos, pergunto qual o seu signo. Pega de surpresa, ela engasga, desconversa, diz que cuidou bem do meu táxi, estica a mão em direção às moedas. Percebendo que ela havia esquecido a história do aniversário, insisto no signo. A pedinte se irrita, finge estar magoada com minha desconfiança, pergunta se vou lhe dar o dinheiro.
Ela parte sem me agradecer. A soma que arrecadou comigo não valeu o sacrifício. Não pagará nem uma pedra. Dureza.

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Sei que homens são inseguros (eu que o diga), entendo que a primeira visita ao apartamento de uma namorada é difícil, um momento decisivo, acho até válida a visita ao terreiro de umbanda na noite anterior. Tudo ajuda, eu sei. 
Agora, meu amigo, perguntar ao taxista que está lhe transportando para o tal encontro se ele tem um Viagra para lhe vender... Tenha a santa paciência.

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O cara jura que foi o primeiro punk de Porto Alegre. Tocou terror nas madrugadas do Bom Fim com sua namorada, a Cicuta, cabelo moicano, espetado de piercings e bebendo vinho no bico... 
Perguntou se poderia pagar o táxi com Banricompras. É azulejista de mão cheia, mas, no momento, faz bico de vigia noturno - o dindin só sai na sexta. Nem sinal da rebeldia setentista. Tudo que ele queria era chegar em casa a tempo de ver a novela.

Um comentário:

Dalva M. Ferreira disse...

Radiografia das ruas... Um abração, fica na paz.