domingo, 10 de maio de 2015

O taxista perfeito

Existe uma fábula sobre um homem que passou a vida à procura da mulher perfeita para casar. Como já estava muito idoso e estava ainda solteiro, um amigo perguntou se ele não tinha achado a mulher perfeita. O velho respondeu que sim, havia encontrado a mulher perfeita, mas não casou-se porque ela procurava pelo homem perfeito.

Meu colega Portugal é um taxista exemplar. Seu táxi é o mais bem cuidado do ponto, vive batendo os tapetes, passando uma flanela na lataria, gasolina só aditivada, oficina só autorizada, tudo no lugar certo. Veste-se de forma impecável, roupa alinhada, perfume, gel no cabelo. Portugal é pura educação, não comete infrações de trânsito, não palita os dentes, não arrota em público, não fala palavrão. O taxista perfeito.

Acontece que Portugal está passando por um momento difícil. Seu casamento, depois de muitos anos, chegou ao fim. Inconformado, o velho taxista busca conforto no convívio com os colegas. Procura por ombros amigos, ouvidos que ouçam as explicações que ele tem para o seu revés matrimonial.

E as explicações são muitas, pois Portugal não merecia ter sido abandonado. Ele foi um marido atento, trabalhador, romântico, Portugal foi o marido perfeito. Segundo nos conta entre uma corrida e outra, Portugal foi atencioso, bom pai, bom amante, pagava as contas. Ele vem nos contando tudo em detalhes, todos os fatos... A sua versão dos fatos, claro.

O problema é que nosso colega começa a falar mal da ex-mulher e não para mais. Ele começa a falar bem dele mesmo e não para mais. Você faz uma corrida, duas, três, volta ao ponto e lá está o Portugal falando de como foi injustiçado pela ingrata. Aos poucos, o taxista perfeito vai se revelando um perfeito chato. Ao que parece, a mulher teve seus motivos para cair fora.

Portugal já é madurão, terceira idade, mas estamos torcendo que arranje logo uma nova mulher, e que ela seja perfeita. Para o bem de nossos ouvidos cansados.

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