domingo, 22 de fevereiro de 2015

Eu e o terrorista

Enquanto colocava a bagagem do hóspede no porta-malas do meu táxi, o funcionário do hotel informou que o cliente não falava português. Tudo bem. Destino aeroporto. O homem era estilo terrorista, muito alto, olheiras escuras e barba bem longa. A roupa esporte ajudava a não meter tanto medo. Ele falava ao celular, cumprimentou-me com a cabeça e embarcou.

A ligação telefônica durou por um tempo. Meu passageiro falava em uma língua incompreensível - árabe, talvez -, mas era possível notar que estava irritado. As únicas palavras que consegui identificar foram “carnaval” e “samba”. Imaginei que o longo feriado talvez estivesse atrapalhando os negócios do estrangeiro.

Terminada a ligação, procurei puxar assunto, em inglês, que é uma língua universal. O homem mostrou-se receptivo. Seu inglês parecia tão ruim quanto o meu, assim nos entendemos bem. Ele me explicou que era turco, que trabalhava com futebol, que estava adorando o Brasil. Quando a intimidade aumentou, quis saber o que ele estava achando das mulheres brasileiras. Ele respondeu de cara amarrada:

-- I love my wife. (eu amo minha mulher)

-- … (silêncio)

-- I am married. (sou casado)

-- … (medo)

O clima azedou pelo resto da corrida. Passei a temer pela vida. Talvez o homem fosse um daqueles fundamentalistas explosivos, sei lá. Para piorar as coisas, já no aeroporto, deixei o cartão de crédito do cliente cair entre os bancos do táxi. O cartão escuro, os bancos escuros, os tapetes escuros. Entrei em pânico, não achava o maldito cartão!

Abri as portas do táxi, liguei a lanterna do celular, sacudi os tapetes, nada do cartão de crédito, parecia ter evaporado! Enquanto corria de uma porta para outra do táxi, evitava olhar o terrorista, que a essa altura já devia estar puxando uma arma para me matar. Quando por fim achei o cartão, mostrei-o ao passageiro. Ele estava sorrindo, achando graça do meu pânico.

-- Are you crazy? (você é louco?)

Gorjeta polpuda em dólar. Yess!

Um comentário:

Ricardo Mainieri disse...

Mauro crazy, que erro de dedução! Nosso herói taxista estava é se borrando de medo(rs). Crônica de suspense, valeu!