Cabelo ou sexo

O passageiro chegou apontando para meu táxi. Enquanto eu tomava meu lugar ao volante, ele tirou uma onda com minha careca: perguntou se não haveria perigo eu dirigir com o cabelo nos olhos – piadinha infame. Mas eu pensei que a coisa acabaria por ai.

Acontece que meu estranho passageiro tinha uma certa obsessão por calvície. Ele começou querendo saber com que idade eu ficara careca, se eu já havia usado produto para a queda de cabelo, algum tipo de peruca... Mesmo eu não me mostrando interessado no tema, ele continuava falando em massagens capilares, fases da lua apropriadas para o corte, tipos de implantes.

Mas a conversa começou a ficar interessante quando o homem resolveu compartilhar comigo suas pesquisas no combate à calvície.

Mesmo confessando trabalhar com esquadrias de alumínio, meu passageiro falava como um grande entendedor de medicina. Depois de meticulosa busca no Google, ele revelou ter encontrado um remédio eficiente no combate à queda capilar. O problema é que o tal medicamento lhe diminuiu drasticamente a libido, o desejo sexual. A solução encontrada por ele teria sido usar o tal remédio de forma alternada. Dois meses de medicamento, dois meses de sexo.

Nesse ponto, percebi que o homem era pancada. Que ótimo! Notando meu súbito interesse por ele, o passageiro seguiu sua explanação.

À custa de apurada pesquisa na internet, o cientista de araque teria concluído que o segredo todo residia no zinco. O tal remédio só funcionava por ser à base de zinco. Descobriu também que o esperma humano é rico em zinco. Para não ficar sem sexo nem zinco na cabeça, ele teria desenvolvido uma técnica de recolhimento do próprio esperma que seria aplicado no couro cabeludo logo após o ato sexual. Simples. Uma operação explicada sem o menor constrangimento e com uma nojenta riqueza de detalhes.

Para não magoar meu passageiro, prometi experimentar seu método de combate à calvície assim que possível.

Só que não!