domingo, 1 de junho de 2014

Atacada dos nervos

O telefone do ponto tocou. Era do motel, precisavam de um táxi com porta-malas. Eu era o único no ponto, meu carro tem o porta-malas reduzido pelos cilindros do GNV. A atendente do motel ordenou que viesse eu mesmo, ela parecia confusa: afinal, por que alguém precisa de um carro com porta-malas em um motel?

Na portaria, a menina informou o número do apartamento e eu entrei. O casal já aguardava o táxi na rua. Pareciam ansiosos.

O homem era bem mais jovem. Um garoto, na verdade. Musculoso, típico frequentador de academia, não combinava com sua parceira. A mulher, mais madura, fazia estilo elegante. Salto alto, óculos escuros e uma bolsa enorme pendurada no braço. Ela estava chorando.

O rapaz me explicou que sua parceira desconfiava que o marido estava de tocaia na frente do motel. O homem seria violento, delegado de polícia. Meio sem jeito, o garotão perguntou se eu poderia levar a mulher no porta-malas do táxi. Sem chance!

Foi uma negociação constrangedora. A própria mulher foi quem me convenceu a aceitar o negócio - apesar de não estar muito entusiasmada com a possibilidade de entrar no porta-malas. Ela explicou que tinha problemas de nervos, se não saísse logo daquele motel, teria um troço. Depois de fazê-la prometer que não morreria dentro do meu porta-malas, aceitei dar início à operação desova.

Depois de enfiar a amante no bagageiro, o garotão relaxou, parecia estar se divertindo. Enquanto saíamos do motel, fez um sinal com o indicador girando em torno da orelha, como se dissesse que sua amante era maluca. Com a carteira recheada da mulher em mãos, pagou a conta e ainda colocou algumas notas extras no bolso. “Gorjeta”.

Não havia ninguém na frente do motel. Nada além da mente mergulhada em culpa de uma esposa infiel. Deixei-os em um estacionamento subterrâneo de um shopping onde a mulher pode, enfim, voltar a subir nos saltos, retomar a compostura.

O porta-malas ficou cheiroso por um bom tempo.

2 comentários:

Ricardo Mainieri disse...

cosa de lôco, como diria o gaúcho. o rapaz era, provavelmente, um michê e ela uma infiel de primeira viagem. Mas que não precisava ser, necessariamente, no porta-malas...(rs)

Anônimo disse...

quem te viu com o rapaz musculoso saindo do motel deve ter pensado que voce tinha acabado de ter um caso com ele. Dificil hem!?