quinta-feira, 1 de maio de 2014

Como vendi 3 mil livros sem sair do meu táxi

Volta e meia, pego algum escritor em meu táxi. Eu apresento meu livro, como faço a todo o passageiro, e o sujeito exclama: “também sou escritor”. Nessa hora, olho para o fulano e não o reconheço. Até ai tudo bem, visto que não conheço muitos escritores. Acontece que, volta e meia, esse passageiro-escritor traz consigo um exemplar do seu livro e me propõe que troquemos “figurinhas”. Sempre aceito a troca, mesmo que o livro do outro tenha meia dúzia de páginas, mesmo que aborde um tema que não me interessa.

Dia desses, peguei um passageiro que se disse presidente de um “Grêmio Literário”. Ele contou que sua entidade vai publicar 5 livros de poesia somente esse ano. Edições de mil exemplares cada. Um fenômeno, pensei. Como conseguem vender tantos livros? Meu cliente explicou que o segredo são os “editais”. É preciso saber formatar o projeto, inscrevê-los nas “leis de incentivo à cultura”. É preciso ter a manha, segredou meu esperto passageiro.

Agora, quando alguém propõe trocar seu livro pelo meu, costumo dar uma boa olhada no exemplar alheio. Procuro por algum logotipo governamental. Caso a outra obra tenha sido financiada com dinheiro público, recuso a troca. Por certo, as tais leis de incentivo têm sua importância, quem sou eu para questionar, mas meu livro foi bancado com dinheiro do meu próprio bolso, só aceito trocá-lo por outro que esteja nesta mesma categoria.

Depois de publicar em 2006 meu primeiro livro por uma editora tradicional, aproveitando o boom dos blogs, a popularidade do Taxitramas, achei que literatura não era para mim. Depois de levar mais de cinco anos para vender 1.500 exemplares (a grande maioria vendida por mim, no táxi) achei que não valia o esforço, já que meu taxímetro me remunera melhor e mais rápido.

Ano passado, 2013, empurrado por amigos, leitores do blog e principalmente por minha filha, comecei a cogitar a publicação de um segundo volume do TAXITRAMAS - diário de um taxista. Depois de ouvir um “vamos ver, quem sabe” de algumas editoras, resolvi fazer eu mesmo meu livro. Um ilustrador cobra caro? faço em mesmo a capa. Revisão ortográfica? um amigo letrado. Diagramação? uma amiga querida. Separei uma parte da féria do táxi e paguei pela impressão. Pronto.

Cinco meses depois: 1.500 livros vendidos, só no táxi. E contando.

Portanto, caro escritor que embarcar no meu táxi, fica o aviso: só “troco figurinhas” com autores que acreditam em seu próprio texto, que não esperam por editoras nem (muito menos) pelo contribuinte brasileiro para financiar seus projetos.

E tenho dito.

3 comentários:

Ricardo garopaba Blauth disse...

muito bem colocado Mauro...........

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Muito bom, Mauro! Você tá certo. Quando eu descobri que a livraria fica com 50% do valor de capa do livro no lançamento, descobri também que não tinha adiantado nada abrir uma editora. Esse mercado editorial é muito cruel. Minha editora lançou 4 títulos em 4 anos e lucro?? Não, não teve lucro. E a minha tiragem é de 200 exemplares por vez. É uma equação que não fecha. Só mesmo seguindo o caminho que o seu passageiro falou. Mas se a gente ama ler, ama os livros, ama escrever, não tem outro jeito. A gente insiste mesmo. E eu quero comprar o seu segundo livro! (só tenho o primeiro). Um abraço paulistano!

Cirio Hubner disse...

É de pessoas com esta índole que o Brasil precisa. Se 50% das pessoas agissem assim, teríamos um outro Brasil, e não este onde o que prevalece é a "lei de Gerson".