domingo, 22 de dezembro de 2013

Por que a pressa?

Correria do fim de tarde. Eu guiava meu táxi com cuidado pelo entorno da Praça XV. Com o fim de ano se aproximando, o formigueiro de gente circulando parecia ainda mais enlouquecido.

No meio do tumulto, uma figura se desatacou justamente pela falta de pressa. Uma vozinha, coluna encurvada, bengala de bambu, sacolas nas mãos. Ela cruzava a faixa de segurança arrastando os pés, olhando para o chão, um passo de cada vez, câmera lenta total. Botei o carro em ponto morto e esperei.

Ao final da travessia, ela me fez sinal. Queria um táxi. Beleza!

Ela embarcou por etapas: primeiro jogou a bengala, depois as compras, depois girou nos calcanhares e sentou. Por último, vieram as pernas. O processo de se ajeitar no banco e puxar o cinto levou mais uns 5 minutos. Atrás de mim, os carros indignados sem conseguir passar. Azar.

Destino: Petrópolis. Enquanto subíamos a Protásio Alves, minha idosa passageira contava um pouco de sua trajetória de vida. Mulher de um conhecido artista plástico, ela lembrou-se dos tempos de glória, de bajulação, convites para festas, viagens a Paris. E contou também, com um acento amargo na voz, como tudo isso acabou. Como foi esquecida pelo mundo com uma mísera aposentadoria do INSS por consolo.

Chegando ao destino, o aplicativo do celular gritou. Alguém precisava de táxi a duas quadras dali. Fiquei tentado a aceitar, mas a vozinha ao meu lado ainda precisava achar o dinheiro, pagar, guardar o troco, desembarcar, despedir-se... Relaxei.

Outras tantas corridas chamaram enquanto eu ajudava a idosa a descer, carregar suas compras, abrir seu portão. Recusei o convite para um chazinho alegando que Petrópolis inteira parecia precisar de táxi. Sai em disparada.

Rodadas algumas quadras, descobri a bengala de bambu esquecida entre os bancos. Voltei. A vovó ainda estava agarrada ao portão. Pecado!

Desliguei o taxímetro. Pedi desculpas pela pressa e aceitei o convite para o chá.


3 comentários:

thais disse...

Espero que hoje você também tenha desligado o taximetro e esteja curtindo o natal com a sua família. Feliz Natal.

Dalva M. Ferreira disse...

Pecado!

ricardo garopaba blauth disse...

alo Mauro....acredito conhecer a pessoa que falas........pena que não sabes o nome....abraços...