domingo, 25 de agosto de 2013

Um taxista colorado

Sassá era um taxista muito requisitado pelos passageiros da noite. Aliás, ele só trabalhava à noite, só saía de casa após o crepúsculo. Todos os passageiros queriam o seu telefone, um taxista de confiança na noite é um produto disputado a tapa.

O sucesso do Sassá devia-se ao seu estilo discreto. Nosso colega era pura educação. Mesmo depois de tantos anos de sua morte, vários passageiros ainda me perguntam por ele. Era comum pais zelosos procurarem pelo Sassá, para que ele transportasse seus filhos. Confiança, discrição e elegância.

Lembro-me de vê-lo chegando ao ponto no fim da tarde, sempre alinhado, roupa bem passada, sapato brilhando, um leve manquitolar de malandro. Trazia uma pequena leva-tudo embaixo do braço e uma toalhinha no ombro para secar o suor que lhe brotava em abundância, mesmo no inverno.

Havia apenas um momento em que o gentleman Sassá perdia a compostura: em dias de jogos do Internacional. Sassá era colorado doente. Nesses dias, o homem se transformava!

Quando havia jogo do Inter, Sassá vestia uma camisa social vermelha e uma calça branca. Trabalhava assim, para dar sorte. Em um desses dias, três torcedores gremistas chegaram ao ponto, camisetas do time, bandeiras, copos de cerveja na mão. Estavam indo para o estádio Olímpico. Sassá, que era o ponta, recusou-se a levá-los. O clima ficou tenso.

Pela roupa vermelha e branca do taxista, os gremistas logo perceberam qual era o problema. Insistiram na corrida. Era uma questão de honra. Ameaçaram chamar a polícia, o taxista era obrigado a fazer a corrida.

Sassá colocou os três gremistas para dentro do seu táxi, trancou as portas e saiu lentamente do ponto. Muito lentamente. Primeira marcha, mal pressionando o acelerador. Naquele ritmo, levariam dois dias para chegar ao estádio. Antes da primeira esquina, o couro comeu dentro do táxi. Três contra um.
Nosso colega voltou todo arrebentado, mas feliz, cantando: “Glória do desporto nacional, ó Internacional...”

Um comentário:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Tem hora que o "Grenalismo" acaba beirando o absurdo mesmo, brigar por causa de futebol é uma grande besteira. Eu mesmo sou gremista (e corinthiano), mas ultimamente tenho mais contato com colorados.