domingo, 14 de abril de 2013

Fragmentos de uma noite louca


O taxista sonhava com a Shakira lhe beijando a face. Quando acordou, teve que afastar o focinho de um vira-latas e sua língua áspera. Custou a atinar onde estava. Aos poucos, percebeu que estava nu, deitado na grama, no alto do Morro da Polícia. O táxi com as portas abertas, os faróis ligados. A cidade, aos seus pés, amanhecia.


Os primeiros movimentos do taxista foram difíceis. Sua cabeça parecia prestes a explodir. Em câmera lenta, pôs-se a recolher a roupa que estava espalhada pelo brejo. Lentamente, as coisas começavam a fazer sentido. Fragmentos da noite anterior chegavam aos poucos. Lembranças vagas de uma corrida estranha.

O endereço onde solicitaram a corrida era uma fábrica abandonada. Motos enormes com faróis acesos entravam e saiam acelerando. O taxista encontrou sua passageira saindo de um galpão em ruínas onde as pessoas dançavam ao som de música eletrônica. Ela era uma morena estonteante enfiada em um minúsculo shortinho jeans. Tinha os braços tatuados e carregava uma garrafa de uísque.

O taxista lembrava da morena ter brigado com seu namorado motoqueiro. Queria dar um rolê, esquecer aquela festa, as malditas motos e as jaquetas de couro. Lembrava de quando a morena o convenceu a subir o “Morro das Antenas“ com a promessa de seus seios explodindo na blusa. A suspensão do táxi sofrendo lomba acima, na estradinha de terra.

Enquanto se vestia, as lembranças chegavam a granel.

A última imagem que o taxista lembrava da noite anterior era da garrafa de uísque. Do primeiro gole que ele prometia evitar, nas reuniões do AA. Lembrava da morena desabotoando sua camisa, da lua cheia, das rosetas espetando suas costas.

Pela altura do sol, já devia ser tarde. Nem sinal da morena. Vinte e sete ligações perdidas no celular. Sua mulher desesperada. O patrão já devia ter registrado na polícia o sumiço do táxi. O jeito, agora, era comprar um analgésico e encarar as consequências daquela corrida maluca.

3 comentários:

Ricardo Mainieri disse...

O taxista curtiu um amor punk e perdeu a memória.
A estas horas, quando a crônica sair no jornal, a mulher do cara vai querer que ele conte a estória bem completinha...(rs)

Abs.



Ricardo Mainieri

Unknown disse...

hahaha! Ninguém é de ferro... será que valeu os anos de reuniões do A.A. jogados fora?

Mauro, acho que sem saber vc vai comprar uma briga com a trupe das jaquetas de couro... aconteceu comigo, rs. Dê uma lida:
http://operfeitosubmundo.blogspot.com.br/2011/10/balada-da-motociclista.html

Abraços!

Anônimo disse...

Vocês não estão entendendo... Essa história é a verdadeira da semana passada!

E o taxista era o Mauro! Ele inventou aquilo do assalto para enganar a esposa, depois de horas "sumido"!

Hahahahah!