domingo, 12 de setembro de 2010

Cabeça quente

Meu colega Toninho atendeu o telefone do ponto e ficou pendurado no aparelho um tempão. Estranhei, pois todos sabemos que o telefone precisa ficar livre para receber chamadas. Curioso, fui ver o que estava acontecendo. Toninho encerrou a ligação visivelmente emocionado, com os olhos marejados. Tão logo desligou, explicou-me o que estava acontecendo.
Toninho disse que, poucas horas atrás, tinha feito uma corrida para um passageiro conhecido do ponto. Em determinada altura do caminho, o passageiro discordou do trajeto que estava sendo feito. Houve, então, uma discussão, que, devido ao nervosismo do homem, acabou fugindo ao controle. Por fim, meu colega não cobrou a corrida e expulsou o passageiro do táxi!
Conheço bem o Toninho. É um sujeito educado, quieto, justamente o tipo de cara com o qual não se deve inticar - os quietões são os mais explosivos. O taxista disse que estava levando a desavença numa boa até que o passageiro usou uma expressão popular para diminui-lo: teria mandado o Toninho ficar quieto, pois "poste não mija em cachorro". Acabou levando uns cascudos do meu colega e ficando a pé.
A ligação que Toninho havia acabado de atender era, justamente, do tal passageiro. Ele ligou para o ponto para se desculpar. Disse que não estava conseguindo trabalhar, perturbado pela culpa. Explicou que andava nervoso, com problemas em casa e que, por isso, tinha perdido a cabeça durante a corrida. As explicações do homem foram tão carregadas de emoção, que quase levaram Toninho às lágrimas.
Hoje, peguei o mesmo passageiro, para fazer a mesma corrida. Ele perguntou qual caminho eu faria. Senti que minha resposta serviria como um tira-teima, para ver quem tinha razão na briga do outro dia. Quando optei pelo trajeto que Toninho havia feito, o homem soltou um longo suspiro, afundou no estofamento e não disse mais nada. Assunto encerrado.

11 comentários:

Anônimo disse...

Que sorte a sua! Ele poderia ter repetido a dose! Quem não mija em cachorro é ele!!!! srsrs

♪ Sil disse...

Mauro,

É, infelizmente a casa de Caio esta a venda.
Vamos ver se conseguimos reverter isso.
Estamos unidos, com milhões de assinaturas, feitas em uma petição inclusive judicialmente.
Tomara que consigamos.
O Brasil precisa ao menos ter vergonha na cara e eternizar a memória de quem muito contribuiu.

Infelizmente não é assim, não é.
Caio, é meu amor maior.

Quanto a Lya, não sei se ela é chata, mas tem um cérebro privilegiado, e eu sou fã dela.
Li tudo, tudo.
me apaixano por cada livro dela.

Meu abração pra ti!!!

Gina Tônica disse...

sempre quis entrar num taxi e dizer: SIGA AQUELE CARRO!!!!!!!!
Um dia eu fiz isso, mas não tinha carro nenhum pra seguir, muito menos uma situação favorável pra tal imperatividade. o taxista riu-se.
but, eu fiz! foi legal... rs

adoro seu blog!

bjs

Adriano de F. Trindade disse...

Ligar de volta e se desculpar?
Eu diria que dá para contar nos dedos quem se importa isso. Fato é, esse cara tem consciência, pois apesar da adversidade, ele se preocupou em reparar o que não julgou correto.
Tomara que esse cara consiga resolver satisfatoriamente seus problemas, antes ele do que outro que não tá nem aí pro próximo.
Ótimo texto, um grande abraço!

Jeison Luis Izzo disse...

O ser humano tem essas explosões. Às vezes, acontece. Tenho certeza que o Toninho também estava com isso na cabeça. E o mais interessante é a culpa do passageiro. Ninguém gosta deste tipo de sentimento corroendo, amargando os pensamentos. Enfim, um texto que retrata o ser humano em toda sua complexidade. Culpa, perdão, descontrole e catarse. Excelente texto. Há braços.

Dalva M. Ferreira disse...

Excelente mesmo. Você é bom...

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Bela história! Cabeça quente realmente não ajuda nada.... Há braços!

Anônimo disse...

Mas você só fez isso depois de saber da história. Assim não vale!
Abraço.

Anônimo disse...

o fato de ele ter se desculpado mostra que tem ao menos um pingo de caráter.

Palavras Vagabundas disse...

Conheci seu blog hoje, ele é demais!Li seu perfil e concordo "escrever e pesisitir e insistir" sempre encontramos leitores.
abs
Jussara

Alexandre RJ disse...

Taxistas tem mesmo a formula para tudo! Rapidamente sentiu o tira teima e optou pelo trajeto do amigo taxista? Além da fórmula ainda são corporativistas! Mas Mauro quem tinha razão? O Toninho ou o passageiro?