domingo, 15 de novembro de 2009

Um velhinho esperto!


O passageiro era um velhinho maltrapilho. Roupa surrada, chinelos, barba por fazer. Apoiava-se em uma bengala com a qual me fez sinal. A impressão não era boa, mas parei. Seja o que deus quiser.
Depois que embarcou, minhas preocupações quanto ao cliente aumentaram. Ele pediu que eu o levasse "ali" no cais do porto, sendo que estávamos no bairro Partenon, no outro lado da cidade. A ideia de que eu estava com um problema dentro do táxi aumentou.
Antes de partir, pedi ao passageiro que colocasse o cinto de segurança. O velhinho, com as mãos sobre a bengala, não me deu bola, ficou olhando para frente. Desconfiei que ele não tivesse ouvido e pedi mais alto. Nada. Nem te ligo. Ele apenas mastigava a dentadura e olhava o infinito. Então, bati em seu ombro e pedi novamente, fazendo o gesto como se estivesse colocando o cinto, ao que ele me saiu com a seguinte exclamação:
- Ah, eu sempre esqueço de chavear a porta de casa!
Pronto, eu agora estava certo que tinha um velho maluco sentado ao meu lado.
Mas, felizmente, eu estava enganado. Ao longo da corrida, fui entrando na mente do meu cliente. Aquela história da chavear a porta era pura malandragem. O velhinho, apesar de surdo, era muito esperto. Do alto dos seus quase 100 anos de idade, era uma biblioteca viva!
Ele contou histórias incríveis do tempo em que levava tropas de burros do Rio Grande do Sul para São Paulo. Meses de viagem! Mais tarde, na época das revoluções, contou que encontrou um homem morrendo no meio do mato, depois de uma batalha que aconteceu perto da sua casa. Salvou o tal homem, um certo Cordeiro de Farias, que, depois, viria a tornar-se governador do estado. Com isso, ganhou um bom cargo no cais do porto, onde se aposentou.
Foi uma corrida deliciosa. E pensar que eu quase não parei.

18 comentários:

Mr_P disse...

Ta vendo só. Agora não pare não que vc vai ver! rsrsrs
Se tiver dado sorte dele ter te escutado, deve ter se tornado mais um capítulo de algum livro dessa verdadeira "biblioteca viva".

Abraço Mauro

Caminhante disse...

É ele mesmo na foto? Tirou escondido?

Edmilson disse...

" Os diamantes brutos estão por toda parte" Abraços.

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

com foto a gente até acredita!! rsrsrsrs

Elaine dos Santos disse...

ameeei a história, aliás, amo todas as histórias que vc conta, afinal quem melhor que um motorista, que lida com uma infinidade de pessoas, para ter histórias para contar. abçs :)

Dris Ribeiro disse...

nunk julgue um livro pela capa!

Giane disse...

Oi, Mauro!

Nem sempre os melhores presentes vem nos mais belos pacotes...

Beijos mil!!!

Anônimo disse...

Também tenho esse grave defeito, às vezes até por timidez, de me prevenir contra estranhos, ser desconfiada pela aparência. Tive algumas boas surpresas, como a que tiveste.
Esse velhinho merece uma entrevista. Por escrito, pra facilitar. Que maravilha conversar com alguém assim, não é?
Abração e viva o Avaí, né?

Luiz Gnz disse...

MAURO:

Grande Mauro ... !!!

.... risos ....

Esses velhinhos, vou te dizer uma coisa hem .. ??

Tem muita, mas muita historia para contar, que o diga meu PAI, com 89 anos de idade, auto didata em 8 idiomas, os aprendeu apenas lendo.

O velho ainda é uma fera .. !!


Adora ler, inclusive já leu o seu livro 3 vezes e eu apenas uma ... risos ....

Cordeiro de Farias, grande Homem, ex Governador de vosso Estado, o Rio Grande do Sul .. !!

Pessoas assim nos fazem bem, sempre

Abraços, e apareça no meu BLOG.
Lá a casa também é sua e a corrida é de "graça" ... risos ..

Luiz Gnz

**** disse...

Opa. Se deu bem o cara. Do jeito que eu gosto de gente teria me fodido, deixado o cara morrer. Rsrsrs

Carmem Tristão disse...

é, meu amigo! como é bom quando a gente não julga um livro pela capa, não é mesmo? beijoooooooo

Maykon disse...

Grande Mauro,
ótima a história. Espero que você tenha conseguido que o velhinho colocasse o cinto. hehehe...
Forte abraço

Dalva M. Ferreira disse...

Grande Mauro!

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom

Marcus disse...

Que beleza, hein? Transportou uma das histórias vivas de Porto Alegre! Belo texto, Mauro, como sempre! Continue brilhando. Há braços!

Unknown disse...

Que legal , nada como trazer a história do Brasil dentro do táxi...que pena q nesse caso o trecho ficou curto! Grande abraço

Gorby disse...

Por vezes as aparências iludem e fazemos ou criamos uma ideia errada de uma pessoa ou coisa que mais tarde se revelam fantásticas!!! Abraço de Portugal

Anunciação disse...

Aparência,aparência...