domingo, 29 de novembro de 2009

Um despacho da pesada

Fim de tarde, meu colega Marcelo resolveu arriscar uma última corrida. O cliente era um pai de santo, acompanhado de duas mulheres. Iam largar um despacho.
O religioso era um homem dos seus cento e tantos quilos, gay e muito extravagante. Todo de branco, com colares coloridos no pescoço e um chapéu africano, ele sentou na frente com o taxista. As mulheres, excitadas com o ritual, foram atrás.
O local escolhido para o trabalho era uma estrada nos fundos do Morro da Polícia, um local de difícil acesso. Para chegar até o ponto do despacho, era preciso subir uma ladeira íngreme, de chão batido, estreita e com valetas enormes dos lados. Tarefa impossível para um táxi grande como o do Marcelo. Como o batuqueiro insistia que não queria subir a pé, o taxista resolveu arriscar.
No meio da subida, o carro patinou e não foi mais. Os passageiros tiveram que subir o resto caminhando. Logo que os ocupantes desceram, o táxi começou a escorregar lomba abaixo. Sem peso, o carro deslizou pelo areão, ficando atravessado, a poucos metros do valo. Marcelo entrou em pânico. Com o celular sem sinal e a noite caindo, a situação era crítica.
Quando os passageiros voltaram, o taxista já tinha um plano. Ele precisava colocar peso na parte da frente do carro, para conseguir tracionar. Para isso, ele colocou as mulheres sentadas no banco da frente e pediu que o pai de santo subisse no capo dianteiro do táxi. Vendo que era mesmo a única solução, todos concordaram, mas não sem um pequeno escândalo do religioso. Sentado sobre o carro, agarrado nos limpadores do para-brisa, ele gritava para o taxista:
- Bofe, tu vais me matar, seu maldito!!
A manobra deu certo. O táxi andou alguns metros pra frente, Marcelo alinhou as rodas e desceu a ladeira lentamente, com o religioso aos gritos, ameaçando desmaiar.
Sarava, meu pai!

Marcelo, o "Bofe".

15 comentários:

Ricardo Mainieri disse...

Eu sugeriria a este teu colega mandar fazer uma limpeza energética no carro dele...
Quem sabe ficaram alguns maus fluidos por lá...
Hilariante crônica, como sempre.

Abraço.

Ricardo Mainieri

Gorby disse...

Mais um grande post!! Não falha... é o Mauro quem escreve!!

Abraço

**** disse...

Rsrsrsrs... Muito bom...

Anunciação disse...

Leio e imagino a cena.Hilária.

Tiago Medina disse...

Se não fosse um taxista que contasse essa história, certamente eu não acreditaria! hahaha

abração

EDUARDO POISL disse...

Rssssssssss muito boa.

"... E de novo acredito que nada do que é
importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas,
dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada,
apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares

Abraços com todo meu carinho.
Uma linda semana com muito amor e carinho.

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Bom, ainda bem que deu tudo certo, pelo menos... rsrsrs

karin disse...

Imagina a cena...kkkkkkkkk cada uma...

Dalva M. Ferreira disse...

Taxista sofre...

Caminhante disse...

Não foi uma viagem de bom agouro!

Anderson disse...

Como sempre, contando uma história interessante.
Excelente final de semana pra vc!

Plinio disse...

Dizem que para baixo todos os santos ajudam...

Tássia Jaeger disse...

Meu DEUUUUSSS! Esse se puxou hei Mauro! uashuahsuahs

Edmilson disse...

Mauro, inovsndo como sempre. Agora mata a cobra e mostra o "bofe". Abraços e saravá.

Anônimo disse...

Conheçendo o "bofe" como conheço,fico imaginando a cena.Só ele mesmo para fazer isso.
pai,tu tá famoso hein!!!!!