domingo, 8 de novembro de 2009

Com que roupa eu vou?

Os passageiros que me fizeram sinal não tinham nada de mais. Dois homens vestidos de forma comum. Um deles era jovem e trazia uma mochila. O outro era um pouco mais velho. Logo que deram o destino da corrida - fim da linha do ônibus de Alvorada - percebi que eram gays.
O passageiro mais jovem estava excitadíssimo. Estava apaixonado por um cobrador de ônibus. Trazia um bilhetinho que o cobrador havia lhe passado na última vez que o tinha encontrado. Agora, estava indo pegar o ônibus, por isso o nervosismo. O problema é que o tal cobrador só conhecia meu passageiro produzido, vestido como mulher, nunca o tinha visto como ele estava agora, com roupas masculinas.
O jovem vivia um drama: não sabia se apresentava-se ao cobrador como realmente era. Queria que seu amigo mais experiente lhe ajudasse. Mas o outro parecia aborrecido com o assunto, enfarado. Tinha trabalhado o dia todo em uma "maldita padaria" e só queria ir pra casa ver a novela.
Vendo que o outro não lhe dava ouvidos, o rapaz resolveu se aconselhar comigo. Contou-me todo o seu caso. Disse que tinha na mochila o material necessário para se "montar". Podia fazer a transformação em minutos. Queria saber minha opinião.
Dei uma boa olhada na dupla do banco de trás. O "padeiro" não estava nem ai: olhava para as próprias unhas procurando alguma ponta de cutícula. O jovem, por sua vez, me lançava um olhar aflito enquanto apertava a mochila contra o peito. Fiquei feliz por não estar na pele do cobrador do ônibus.
Acho que a verdade é a melhor política, mas não falei isso ao meu passageiro - de cara limpa como estava, o jovem era feio como a peste. Temi que acabasse perdendo o namorado. Deixei-o à vontade para se "montar". Antes de chegarmos ao centro da cidade ele já estava pronto.
São espinhosos os caminhos da paixão.

18 comentários:

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Oba! Primeira! Eu já diria ao menino pra ir como ele é, e enfrentar a realidade, qual fosse o resultado. Se o cobrador não quisesse dar continuidade ao caso... é porque não tinha que ser e nesses casos, melhor acabar logo antes que a coisa se complique ainda mais... Mas aí a historinha não ficaria tão bacana!! rsrsrs Há braços, Mauro!!

Anunciação disse...

Caminhos espinhosos,mesmo.Eu não saberia o que responder,sinceramente.

Unknown disse...

Olha,os caminhos da verdade são mais espinhosos ainda.Ótimo conselho,a verdade esta fora de moda.

Gorby disse...

Complicado!!!!!!

Quem não queria ser o cobrador de ônibus era eu, livra!!

Abraço Mauro

Anônimo disse...

Depois de montada ficou pelo menos bonitinha? Estou curiosa... Bjkas

Anônimo disse...

Não sei se foi o modo como você escreveu, mas "maldita padaria" me pareceu ter um significado oculto. Tenho uma idéia do que possa ser, mas prefiro me abster de explicar e deixar em aberto para a imaginação dos demais leitores. rsrs.

São sempre muito ricas as histórias de vida dos gays. Cabe ao bom escritor usá-las para crônicas sem ser preconceituoso ou discriminador, o que é inaceitável. Parabéns pela crônica, Mauro.

Samuel Evezykidi
sevesykidibagize@tempomail.fr

dade amorim disse...

Que história, Mauro. Só queria passar um tempo aí no RS e ouvir histórias em seu táxi. Imagino que viagens divertidas.
Obrigada pela visita, sempre muito bem-vinda.
Um abraço.

Bia disse...

HAHAHAHAHAHAHA muito bom teu post. amei.
"Há braços"

Lelê Maria disse...

Até eu, fiquei sem palavras. rss

Acho que o cobrador não ia se importar muito, não é todo gay que vive travestido sempre... Ele só vai ligar se gostar exclusivamente de mona.

Anônimo disse...

Tá bom ! A feiúra pode ser desculpa, mas imagina o susto do cobrador, quando apalpar a "moça", que vai se desculpar: Mas foi o cara do táxi que mandou eu me vestir asssim!

Abração.

Tatiana disse...

Verdadeiramente espounhosos. Mas bons, sempre tão cehios de vida!

beijos
tati cavalcanti

Ricardo Mainieri disse...

Transformista no divã ambulante do Mauro...
Daria uma boa manchete...(rs)
Existe um fascínio que cobradores e motoristas exercem sobre as mulheres. Mas, com o pessoal da turma do arco-íris eu tinha certo desconhecimento...
Vc. disse que o cabra era feio, então, será que o rapaz, mais vc. e o Carpinejar não formariam um trio terrível...(rs)

Abraço.

Ricardo Mainieri

Anônimo disse...

ola
...cada história...mas a verdade sempre é a melhor solução... melhor falar logo né, pois quanto mais enrola pior fica pra desenrolar...
abs
Luana

Anônimo disse...

ola
...cada história...mas a verdade sempre é a melhor solução... melhor falar logo né, pois quanto mais enrola pior fica pra desenrolar...
abs
Luana

Edmilson disse...

Estava ouvindo a CBN (a rádio que toca notícias) quando durante uma reportagem sobre o mercado negro de dentes para estudantes de odontologia, surgiu seu audio contando sobre a vez em que levou uma universitária ao cemitério para que a mesma fizesse uma "compra". Se quiser dar uma ouvida na reportagem o link taí (http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/pais/2009/11/13/COMERCIO-PARALELO-DE-DENTES-ENVOLVE-ALUNOS-E-PROFESSORES-DE-ODONTOLOGIA.htm)

Telma disse...

Oi Mauro, imagino o susto que vai ser para o cobrador quando descobrir que a sua namorada é na verdade, um namorado! Um óptimo dia para ti. Beijinhos

Alexandre RJ disse...

Grande Mauro, vai que você da sua falsa opinião e ele fica de graça pro seu lado... rs.

Liana disse...

Ricardo Mainieri disse... "Existe um fascínio que cobradores e motoristas exercem sobre as mulheres."

É? Mas vivem me dizendo que mulher gosta é de dinheiro... Paradoxal... =P