segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sobre taxistas e jornaleiros

De tanto parar em determinados cruzamentos, acabo fazendo amizade com alguns trabalhadores destes locais. Já falei aqui da Carmem, jornaleira que fez uma vaquinha com suas duas irmãs para comprar meu livro e protagonizou o momento mais emocionante da minha sessão de autógrafos. Depois disso, nossa amizade cresceu. Ela até me convidou para sua formatura no Eja (Ensino de Jovens Adultos). Carmem estava se preparando para o vestibular quando foi brutalmente assassinada.
Mas a história que quero contar hoje é outra. Ela começa quando um taxista para em uma sinaleira e apaixona-se por uma jornaleira. Era um dia frio. Do conforto do seu carro, ele viu a jornaleira, que comprava café de um vendedor ambulante. Ele viu que ela era linda, e sentiu que aquele café era tudo o que tinha para se aquecer naquela esquina ventosa. Então, resolveu estacionar o táxi e conhecer melhor a garota que o cativara.
Apesar de alguma diferença de idade, eles acabaram namorando, casaram e tiveram uma linda filha. Quem acompanhou a história sabe que aquela jornaleira deu outro sentido à vida do taxista. Ele mudou da água para o vinho. Deixou para trás a vida desregrada que tinha e passou a viver em função da sua família.
Um dia, porém, o taxista sofreu um derrame cerebral e ficou preso a uma cama. Depois de se incomodar com alguns motoristas, a mulher decidiu assumir o volante do táxi. Obstinada, aprendeu a dirigir, fez todos os cursos que são exigidos para a profissão e foi à luta. A Capital ganhou uma linda e corajosa taxista.
Atualmente, ela divide seu tempo entre as dez horas de trabalho na praça e os cuidados com a filha e o marido. Uma rotina dura da qual não reclama. É uma das pessoas mais bem-humoradas que conheço. Sempre leva consigo um sorriso e algumas balas de mel para dar aos jornaleiros dos cruzamentos.

20 comentários:

Anônimo disse...

Mauro, esses relatos ganham um sentido maior, quando você nos faz lembrar que por trás de cada rosto que vemos na rua há uma história e que muitas delas são de cortar o coração.
Levei um susto ao saber da morte de Carnem. Lembrava muito bem da história do livro.
Brava taxista, que como muitos e muitos pega o monstro pelo rabo e dá um nó. Entregue meu abraço a ela.
Boa semana. Abraço de uma gremista satisfeita. (:

Tiago Medina disse...

Que história bonita!
Mas, se ela era linda - e morava em Porto Alegre - certo que ela vendia O Sul nos cruzamentos =)

abraço

Dirceu disse...

Linda história.
Com relação a vida nada fácil da linda taxista, é assim muitas vezes: as pessoas que mais dificuldades tem, são as que menos reclamam. São fortes, e sempre acham tempo para o outro.
Como é que é mesmo a frase?
"Dor (na vida) é inevitável, sofrimento é opcional."
Abraço.

Anônimo disse...

lamento pela sua amiga..

Lídia disse...

É o que a minha mãe sempre fala...

Deus dá situações especiais SOMENTE para pessoas especiais... Certíssimo!

Desculpe o sumiço amigo!
Ando meio atarefada, mas tentarei aparecer mais vezes!

"Há braços"

Mari Lopes disse...

Linda história...

Lidiane disse...

Quando comecei a ler teu texto, pensei: ultimamente ele tem escrito muitas histórias trágicas. Então, quando cheguei ao fim, essa surpresa.
Realidade ou não, o mundo e as pessoas precisam de mais histórias assim.
Aqui na cidade onde vivo apanhei um táxi, certa vez, cujo motorista era uma mulher. Contou-me que seu marido falecera e há cinco anos ela tinha tomado a dianteira do trabalho do esposo.
Trágico, mas muito bonito.

Lidiane disse...

Quando comecei a ler teu texto, pensei: ultimamente ele tem escrito muitas histórias trágicas. Então, quando cheguei ao fim, essa surpresa.
Realidade ou não, o mundo e as pessoas precisam de mais histórias assim.
Aqui na cidade onde vivo apanhei um táxi, certa vez, cujo motorista era uma mulher. Contou-me que seu marido falecera e há cinco anos ela tinha tomado a dianteira do trabalho do esposo.
Trágico, mas muito bonito.

Dalva M. Ferreira disse...

Profissional+Passional= Taxitramas!

t disse...

Que linda história, da jornaleira que virou taxista e foi à luta! Mulher forte e determinada, essa senhora! Um óptimo dia para ti. Beijinhos

Telma disse...

Que linda história, da jornaleira que virou taxista e foi à luta! Mulher forte e determinada, essa senhora! Um óptimo dia para ti. Beijinhos

Bel Lucyk disse...

Mauro, obrigada pela visita no meu blog! Estou curtindo as histórias do seu! Com certeza vou voltar aqui mais vezes! Já escrevi sobre minha conversa com um taxista uma vez, gente boníssima!
Parabéns pelo livro e pelo blog! =)

Rita Alves disse...

Seus textos sempre me encantam. Esse em especial deixou meu dia mais feliz.

Germano Viana Xavier disse...

Mauro e suas taxitramas. O nome de teu livro não poderia ser outro, Mauro.

Muito bom, como sempre.

Meu abraço.
Continuemos...

**** disse...

Não era o Diário Gaúcho que ela entregava, era?
Abraços!

Lord Broken Pottery disse...

Mauro,
Vim aqui continuar lendo suas histórias. Acabei o livro, acho que fiquei viciado em seus relatos. Como sempre encontrei emoção na dose certa, de um jeito que só você sabe dosar. PARABÉNS! Fiz uma postagem onde falo rapidamente sobre o Taxitramas.
Grande abraço

Kinha disse...

Esse é o tipo de relato que te faz repensar o que está fazendo até agora e porque ainda não deu uma sacudida e mudou o rumo das coisas....Beijos

igorlluz disse...

Maurão essa história é maravilhosa e dá insentivo pra quando nós estamos meio caidos,
Falou amigão

igorlluz disse...

Maurão essa história é maravilhosa e dá insentivo pra quando nós estamos meio caidos,
Falou amigão

Anônimo disse...

BOA NOITE Mauro

Que surpresa te ver lá no meu blog educacional. Eu tenho outro (pessoal)http://luadeluzz.blogspot.com

Essa história da Jornaleira Carmen é realmente comovente.
Parabéns. Relato simples e tocante.
Não são todos que escrevem assim tão lindamente humilde.

Parabéns
Não é atoa que vc está cheio de gente lendo suas histórias