sábado, 8 de julho de 2023

Sabe aquele idoso classudo, bem vestido, chapéu de feltro, óculos casco de tartaruga, valise de couro. Dava gosto de ver. Sentou no banco traseiro do meu táxi, feito um lorde. Destino: Teatro São Pedro. Cruzou as pernas e abriu um jornal. Um jornal, cara! Jornal de papel! É muita chinfra, deu vontade de fazer uma foto até. Cá comigo eu pensei: taí um tiozinho que compraria um livro.

No primeiro semáforo, chamei a atenção para o expositor a sua frente que continha 2 exemplares do TAXITRAMAS. Ele baixou o jornal, mirou a capa por alguns segundos e me parabenizou. Beleza. Sinal verde, vambora. Silêncio pelo resto da corrida. Só quando chegamos, percebi que meu cliente havia trocado o jornal pelo meu livro. Leu por toda a corrida. 

— Muito bom. O senhor escreve bem. Texto fluido, certeiro, digno dos melhores cronistas.
— Opa, obrigado!

Meu passageiro perguntou o valor da corrida, arredondou pra cima e mandou descontar mais dois exemplar do meu livro. Autógrafo para ele e para uma amiga. Disse que trabalhou a vida toda com as letras. Foi "titular" de literatura por muitos anos na UFRGS, depois lecionou língua portuguesa em uma universidade na França, voltou ao Brasil e fundou o curso de letras na universidade de Caxias do Sul. Bah. Taí um leitor de respeito. Ele garantiu que me daria notícias. Conferiu meus contatos na folha de rosto do livro e se foi com seu ar aristocrático. Pontual para o chá da 5 no Foyer Nobre do Theatro São Pedro.

Pensando que preciso providenciar uma edição com capa dura e menos palavrões.

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