Duas mulheres, digamos, acima do peso, embarcam no táxi. Espaçosas, ocupam todo o banco traseiro. Uma delas, a da direita, está com um saco de bolachas aberto, comendo. A outra, a mais obesa, sentada atrás de mim, com um cabelo maravilhoso, tipo black power enorme achatado contra o teto do táxi. Vila Mato Sampaio. Tudo bem, vamo lá.
As duas eram do tipo "animadas". Falavam pelos cotovelos. O assunto: um certo leite especial, que o filho de uma delas precisa, que está em falta no SUS. A mulher das bolachas (sabe aquelas bolachas água e sal, bem sequinhas?) aos berros, falando mal do SUS, os farelos voando, as migalhas de bolacha ejetadas boca afora. Vixi. Lá pelas tantas, sinto o encosto do meu banco recuando, sendo puxado para trás! Olho pelo retrovisor e a mulher às minhas costas está agarrada ao meu banco, se inclinando pra frente, o rosto quase colado na minha cabeça! Ato contínuo, um cheiro nauseabundo toma conta do táxi. Cacete!
Um peido!
Não acredito. A mulher meio que ergueu-se segurando no meu banco pra... Peidar! Pensei em meter a boca na gorda, mas o táxi em movimento, abri os vidros e deixei pra lá, o ambiente arejou-se. Deus é pai. A mulher das bolachas agora falando da vizinha que tá grávida, que ela acha que não é do vizinho, tem o cara da moto que visita a vizinha quando o marido sai e tal e coisa quando meu banco novamente é puxado pra trás. Ah não!! Sim. Não acreditei, aconteceu de novo! Aí fui obrigado a esculachar minha "distinta" cliente. Só um pouquinho, minha amiga! A outra, a das bolachas, rindo da peidona hahahah, farelo pra todo o lado... Ninguém merece!
— Desculpa, senhor. Estou com gases.
Subindo pro Mato Sampaio, o clima azedo, a corrida indo pro fim, as mulheres começam a falar de piolhos. A escola das filhas delas com surto de piolhos, as crianças infestadas de piolhos, pente fino no cabelo, larvas de piolhos, piolhos pra cá, piolhos pra lá, piolhos, piolhos, piolhos... Começa a me dar um ruim, a cabeça a coçar, minha meia dúzia de fios de cabelo comichando. Piolhos, piolhos, piolhos, coça, coça, puta que o pariu, o psicológico atuando, as bolachas, os peidos, o vizinho corno, os piolhos... Misericórdia, a corrida parecia não acabar, o Mato Sampaio infinito!
Chegamos.
As mulheres desembarcaram, a suspensão do táxi voltou à altura original, o estofamento puro farelo água e sal, mas uma lufada de ar fresco nos altos do Mato Sampaio. Respiro fundo, desligo o taxímetro e parto pra próxima. Não há o que fazer.
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