segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Passageira tri interessada no meu livro, vinte pilas, leu uma história, gostou, quase comprando, paramos na esquina da Ipiranga com Silva Só. Um piá vendendo morango. QUATRO BANDEJAS POR VINTE! QUATRO BANDEJAS POR VINTE! Ele gritava. Chamou a atenção da minha cliente. Levantou os olhos do livro, olhou os morangos. Senti o drama. Comentei que estão caros, "dia desses estavam quatro por dez". Mas ela interessada, e o guri gritando: QUATRO BANDEJAS POR VINTE! QUATRO BANDEJAS POR VINTE! A mulher chamou o guri dos morangos, largou o livro. Eu falando dos agrotóxicos, da seca que não adoçou as frutas, das bandejas com vírus. Nada, a mulher analisando os morangos na janela do meu táxi. O piá insistindo aos berros: QUATRO BANDEJAS POR VINTE! TÁ BARATO! QUATRO BANDEJAS POR VINTE!

A passageira fechou negócio com as frutas. Perdi a venda. A literatura acumulando mais uma perda. A gula abatendo a arte... Ainda sugeri que levasse o livro: Harmoniza com morangos e nata. Mas não. Não sobrou dinheiro. O morango está pela hora da morte, admitiu minha cliente. "Já gastei demais!".

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