segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Nosso colega Tijolo, além de solitário, está em sérias dificuldades financeiras. Na falta de coisa melhor para fazer, elaboramos uma pequena lista de viúvas, clientes do nosso ponto de táxi, que poderiam resolver a situação do pobre Tijolo.
Dna Maria A. - viúva, apesar de nunca ter casado para não perder a pensão do pai militar. Ferrenha combatente anti petista. Para ter alguma chance com ela, nosso colega Tijolo teria que ir para o Parcão fazer campanha para o Bolsonaro, enrolado em uma bandeira do Brasil.
Dna Maria B. - viúva de idade avançada com boa situação financeira. Para ter alguma chance com ela, nosso colega Tijolo teria que dividir o apartamento com 17 gatos, mais dois filhos (um lutador de MMA e uma atriz de teatro) que ainda vivem às custas da velha.
Dna Maria C. - viúva 3 vezes, viciada em bingos clandestinos, academias de ginástica e cirurgias plásticas. Para ter alguma chance com ela, Tijolo teria que correr o risco de ser o quarto marido a ser mandado para o outro lado pela fogosa viúva negra.
O Tijolo aceita conselhos.
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Pontinho de táxi, esquina Vigário com Salgado filho, embarca uma mulher dos seus 50 anos.
- Salgado à direita, senhor. À direita de novo, ah, ah, à direita, na próxima, ah, à direita na Vigário.
- Mas voltamos ao ponto de partida, senhora!
- Pois é, ah, o senhor me desculpe, ficou no fim da fila, me desculpe. Vou ficar aqui mesmo. Quanto eu lhe devo?
- A senhora está se sentindo bem?
- Eu vi aqui a propaganda do seu livro, o senhor é escritor, é?
- Sim.
- Que bom, vejo que é um taxista educado, um homem das letras, acho que o senhor não me levaria a mal se eu lhe pedisse um grande favor.
- Em que posso lhe ajudar.
- É a minha amiga, sabe, ela que me deu essa ideia. Meu marido está de aniversário e essa minha amiga sugeriu que eu comprasse um presentinho, pra apimentar a relação com meu marido, tanto tempo de casado, o senhor sabe...
- Eu sei, eu sei.
- Pois então. Eu peguei o táxi pra ir pra casa, tinha desistido da ideia, mas resolvi tentar, mas não consigo, morro de vergonha, é muita gente passando nessa rua, Centro da cidade, muita gente, esse ponto de táxi bem aqui...
- Senhora. No que eu poderia lhe ajudar?
- O senhor está vendo essa Sex Shop aqui ao lado? Pois então. Minha amiga sugeriu que eu comprasse um 'acessório', eu dei uma olhada, pela internet, acabei comprando, já está pago, mas tem que retirar, o senhor sabe, aqui nessa loja, eu já tinha desistido da ideia, mas, quem sabe, o senhor poderia me ajudar, retirar o 'produto' pra mim, ah, ah, eu lhe daria uma gorjeta...
Era um embrulho cilíndrico, do tamanho de um pequeno extintor de incêndio. Pela cara da vendedora ao me entregar a mercadoria, minha passageira viajou legal na fantasia.
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Descendo um beco estreito, uma dessa vielas em que o táxi quase esfrega os retrovisores nos barracos de madeirite, esgoto a céu aberto, invasão, pobreza extrema, sem onde manobrar, sem saída, em meio à desesperança, minha passageira aleijada, desce mais um pouco, moço, volta de ré, "não posso caminhar", a cachorrada, fios emaranhados, postes caindo, gatos de energia, e os gatos, propriamente ditos, crianças descalças, um valão no fim do beco, um arroio, cuidado, está desbarrancando pr'aquele lado, o esqueleto de um carro enferrujado dentro do valo, um cenário de guerra, gueto de Varsóvia, penúria, indigência, o fundo da comunidade mais pobre de Porto Alegre, foi nesse fim da picada, lá no fundo, que ouvi o solo de violino.
Segundo minha passageira, é um menino, funcionário do mercadinho da vila. Ele estuda música, à noite, em um projeto social, o instrumento de segunda mão, comprado em uma rifa. A esperança é que o violino seja forte o bastante para resgatá-lo daquele buraco.
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CRUZES!
Tem um homem barbudo, cabelo comprido, sandália de couro, caminhando pela avenida Assis Brasil, carregando uma enorme cruz de madeira nas costas. Ele está parando os táxis, procurando um veículo que possa levar aquela tremenda cruz. Deus me livre! e olha que o porta-malas do Etios é profundo!
O homem me explicou que doou a cruz para uma igreja, mas acabou se desentendendo com o padre, foi excomungado, abandonou a paróquia, mas não deixou a cruz, já que, segundo ele, o artefato lhe custou os olhos da cara.
Depois de trocar essa ideia comigo, de ver que eu não poderia mesmo levar a cruz no meu táxi, o homem, apesar de já estar "pregado" seguiu o seu calvário pelo bairro Cristo Redentor.
Cada um com seus problemas.
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Vozinha, chapéu de tricô, travesseiro embaixo do braço, uma mala enorme, atrapalhada com a chuva, as poças d'água, a sombrinha que não fecha... indo pegar um ônibus em um terminal de excursão:
- Indo viajar (eu tentando ser simpático).
- O que é que o senhor acha?
- fim de papo -
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Dia do motorista
25 de julho✓
Dia do escritor
25 de julho✓
*obrigado*

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