domingo, 8 de março de 2015

Donos da rua

Existe uma pequena rua no coração do bairro Bela Vista (um dos metros quadrados mais caros de Porto Alegre), uma rua sem saída, bem pequena, não mais de 50 metros, apenas dois prédios, um de cada lado desta pequena rua. Prédios de altíssimo padrão. Fui atender a uma solicitação de táxi pelo aplicativo para uma moradora desta pequena rua.

Chegando ao endereço, informei pelo celular minha chegada e tratei de estacionar o táxi em frente ao edifício. Minha passageira devolveu a mensagem “estou a caminho”. Tudo certo. Puxei o jornal e relaxei.

Enquanto conferia as notícias, notei um movimento em volta do táxi. Um homem com cara de curioso chegou perto da janela. Levantei os olhos, olhei pra ele como quem pergunta pois não? Ele levantou o queixo, franziu o cenho, como quem quer saber o que eu estava fazendo estacionado ali. Eu estava com o ar condicionado ligado, vidros fechados, apenas fiz um sinalzinho de positivo para o homem, achei que fosse o suficiente para que me deixasse em paz.

Não era.

O homem começou a bater boca, a cuspir umas ordens e abanar os braços. Não abaixei o som do rádio nem abri a janela do táxi. Não precisava ouvir o que ele dizia, saquei logo do que se tratava. Ele era porteiro do prédio, queria que eu lhe explicasse o que estava fazendo estacionado ali. Aquela era uma rua de apenas dois prédios, quase particular, quase exclusiva dos moradores.

Então saquei que o homem era o porteiro do prédio do outro lado da rua. Como viu que eu não lhe dava bola, ele foi até a portaria do edifício onde eu estava estacionado e chamou o outro porteiro. Mostrou meu táxi ao outro, explicou-lhe minha insubordinação, convocou o colega a vir tirar satisfações. Nesse exato momento minha passageira surgiu na porta do edifício.

Ao contrário dos dois porteiros, a moradora do prédio era pura simpatia. Brindou-me com um bom-dia tão doce e sincero que me fez esquecer de imediato os pobres que se acham donos da rua.

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