Depois de dar algumas voltas ao mundo sem sair de dentro de Porto Alegre com seu táxi, depois de colisões, naufrágios, vômitos, partos e assaltos, você chega à conclusão de que está na hora de trocar de carro, decide que está na hora de partir para um zero Km.
Escolher um carro para a praça é como escolher uma noiva, uma companheira que precisa ser firme nas horas difíceis, que encare o difícil futuro que lhe espera. Então você pesquisa, pede opiniões, faz contas e acaba decidindo por aquele que lhe parece o melhor modelo de carro, o que mais se encaixa no seu perfil (e no seu orçamento).
Então você pega o veículo na revenda, reluzente, imaculado e começa uma peregrinação sem fim para torná-lo um táxi. Providencia a papelada, instala taxímetro, luminoso, faz vistoria, manda envelopar, capa nos bancos, mais papelada, mais vistoria, som, tapete, mais vistoria, aferição do IMETRO, taxas, guias, impostos, placa reflexiva, faixas da EPTC, mais taxas...
E você tem, em fim, um novo táxi na praça.
A primeira corrida dá o tom do que será a vida deste veículo de aluguel. Duas mulheres fazem sinal na calçada. Elas trazem três crianças com elas. Entram falando alto. Uma senta na frente, a outra no banco de trás com a molecada. A moça ao meu lado ouve um funk nos fones de ouvido. O som está tão alto que consigo decorar a letra: “vira de ladinho, levanta a perninha, descendo e subindo”.
A mulher do banco traseiro aproveita a corrida para trocar a fralda de um dos filhos. Enquanto a criança que está sendo trocada esperneia batendo os pés embarrados no vidro, outra pula no estofamento e outra brinca com o vidro elétrico. Terminada a algazarra, digo, corrida, todos se vão, deixando a fralda “lotada” no cantinho do banco.
Vencido este batismo de fezes, o carro segue sua sina de transportar quem quer que pague pelo serviço. O cheirinho de novo, aos poucos, vai dando lugar ao aroma da vida, das tramas que hão passar por ele.
2 comentários:
Continuo pensando que a pior e mais dolorido de todas as situacoes ainda e o primeiro arranhão. Que a gente sabe q cedo ou tarde ele vai chegar.milton taxi canoas
É muita falta de respeito, tem que ser alguém de muito baixo nível para fazer uma coisa dessas.
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