domingo, 6 de julho de 2014

Insensíveis e poetas

Como supervisor do ponto de táxi, sou responsável por atender as ligações de passageiros em busca de explicações.

A mulher do outro lado da linha estava uma fera. Tive que afastar o fone do ouvido de tanto que ela gritava. Alegava que fora insultada por um taxista do nosso ponto. Casualmente, o colega ao qual ela se referia estava na minha frente. Com um gesto, pedi que o Bola ficasse onde estava, enquanto eu ouvia a reclamação da mulher. Tudo que ela falava, eu repetia em voz alta. Logo, Bola me fazer sinal de positivo, sinalizando saber do que se tratava.

A passageira disse que pegou o táxi acompanhada de uma amiga. As duas embarcaram no banco de trás. A reclamante entrou primeiro, portanto sentou-se atrás do motorista, mas meu colega teria pedido que elas trocassem de lugar no banco. Ele teria alegado que o peso estava mal distribuído, o que afetaria a suspensão do carro.

Nosso obeso colega teria dito que seria injusto com as molas transportar dois gordos do mesmo lado do carro com apenas uma magrinha para contrabalançar. Segundo a indignada passageira, ela nem era gorda. Na minha frente, meu colega enchia as bochechas de ar e afastava os braços em arco tentando mostrar que, sim, a passageira era enorme. Foi difícil permanecer sério ao telefone. A insensibilidade masculina não tem limites.

Em outra ligação, o clima já foi bem diferente. Uma passageira com voz suave e um tanto insegura pediu que eu a ajudasse a achar um certo taxista que teria declamado um poema para ela durante uma corrida. Não foi difícil identificar o sujeito. Temos no ponto um colega que vive arriscando seus versos ao volante.

Acontece que, ao final da corrida, nosso taxista teria pedido a passageira em casamento! Perturbada, ela teria saído às pressas do táxi, mas, depois de pensar melhor, estava ligando para o ponto em busca de mais detalhes da proposta.

Passei o telefone para o nosso Camões de araque. Espero ser convidado para padrinho.

Um comentário:

Maykon Souza disse...

Hahaha... Duas cenas deliciosas e muito bem narradas.
Parabéns, Mauro!