domingo, 21 de julho de 2013

A louca da Zona Sul

O taxista parou para um casal. A mulher sentou-se na frente, o que não é usual. O homem, antes de embarcar, ajudou-a a colocar o cinto de segurança. A mulher mantinha o olhar fixo, quieta, como se estivesse hipnotizada. O homem sorriu amarelo para o taxista e sentou-se atrás. Zona Sul.

A mulher, meio escabelada, levava uma velha boia de caixa d’água na mão. Uma haste enferrujada com uma bola de plástico na ponta. A corrida seguiu tranquila até que ela começou a bater com a boia na perna. Primeiro de leve, depois com mais força.

O homem tentou acalmá-la. Argumentou que logo chegariam em casa. Ele explicou ao taxista que a mulher sofria “dos nervos”. Disse que ela tomava remédios controlados, Fluoxetina, Gardenal... Falou que não tinha conseguido a medicação no posto de saúde, por isso a mulher estaria descompensada.

À medida que chegavam ao destino, a situação começou a fugir de controle. A mulher passou a bater com a boia no painel do carro, passou a perguntar pelo filho, primeiro sussurrando, depois aos gritos. O homem tentava tirar a boia das mãos dela sem sucesso. Confusão.

Pararam em uma vila pobre. O homem desceu e soltou o cinto da mulher. Ao ver-se desvencilhada, ela saiu correndo, mas tropeçou e caiu. O homem ajudou-a a levantar-se. Ela, então, entrou em um beco correndo. O homem fez sinal para que o taxista aguardasse e foi atrás da mulher. Na entrada do beco, um velho assistia a cena sorrindo. Maldito!

Depois de aguardar por algum tempo, o taxista desistiu de esperar e partiu. Achou que aquele pobre homem já tinha problemas demais vivendo no fundo daquela favela com uma mulher surtada. O valor da corrida era só um detalhe diante de tudo aquilo.

De volta ao seu ponto, contando essa história, o taxista descobriu que outros colegas já haviam caído no mesmo golpe. Uma encenação que o casal faz para não pagar a corrida.

Aquele velho na entrada do beco, na verdade, sorria por já ter visto a cena várias vezes.

8 comentários:

  1. esta não tem como escapar
    artistas dignos do Soleil.....
    e tudo por talves
    vinte "pilas"

    pra ti
    deve ter valido
    como "material"
    pra esta cronica

    sou solidário contigo
    VALEU....

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  2. Em alguns casos, não temos que achar que caímos em um golpe. Simplesmente pagamos o couvert artístico. Pensa no trabalho que eles tiveram pra pensar no golpe.

    Se, daqui de casa, apenas lendo a crônica, eu também caí no golpe. Imagina o taxista vendo todo esse mise en scène.

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  3. Anônimo8:14 AM

    Rapaz, a criatividade humana para dar golpes não tem limites.

    Impressionante como as pessoas não tem consciência de como prejudicaram o taxista, pelo que ele fez e pelo que deixou de ganhar se atendesse uma pessoa honesta.

    KM

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  4. Anônimo11:44 AM

    Inacreditável. Se só faltava inventar essa, já esta inventada...

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  5. Essa só escrevendo por extenso: PUTA QUE OS PARIU!

    Abraços geladitos.

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  6. Eu chamo isso de "gentinha"

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