domingo, 26 de maio de 2013

Lágrimas, literatura e gripe


Nestes vinte e muitos anos de táxi, talvez possa contar nos dedos as vezes que faltei ao trabalho. Sou compulsivo, disciplinado, desde pequeno - quando criança detestava faltar à escola. Um chato. Depois que virei pai, então, essa neura piorou. Responsabilidade.


Mas hoje estou em casa, doente, escrevendo este texto em pleno horário de trabalho. A gripe me derrubou. Mesmo escrever é uma tarefa penosa quando se está com o corpo dolorido, mas  fui puxado para o teclado. Uma garota do Ceará tirou-me da cama, resgatou-me pra vida. Recebi seu email como uma Benzentacil, uma Loratadina na veia. Em sua mensagem ela diz que chorou em um táxi e lembrou-se de mim. Isso em Fortaleza!

Casualmente, hoje é 23 de maio de 2013. Há exatos dez anos, eu publicava meu primeiro texto no Diário Gaúcho. Surgiam os blogs e eu fundava o Taxitramas. Desde lá, venho perseguindo esse arremedo de literatura semanal, tanto no jornal como na Internet. Parabéns - antialérgico e antibiótico no lugar de bolo. A garota do Ceará chorou no escuro do táxi, voltando de uma festa, porque ainda não tornou-se a escritora que sonha ser. Nem eu, tão pouco.

Mas nós teimamos em escrever, eu e minha amiga virtual. Nas horas vagas, como hobby, que seja, ou no horário de trabalho (entre uma corrida e outra), eu no meu blog, ela no Três Paredes, isso é tipo uma doença, eu acho. Ou um tipo de remédio, que nos tira da cama, nos faz ir em frente.

Minha amiga chorou em um táxi em Fortaleza e o taxista não notou. Ela, então, lembrou de mim, que não perderia a oportunidade para escrever sobre a passageira que chorou. E, indiscreto, publicaria suas lágrimas no jornal, no blog. Porque é infinita a dignidade de uma mulher que chora em silêncio.

Várias vezes pensei em parar de escrever, nesses 10 anos. Mas mensagens como a da minha amiga cearense me levam adiante. Ela tão jovem, eu cinquenta. Ela lá, eu aqui. A literatura nos conecta, seca as lágrimas, cura a gripe.

12 comentários:

  1. Anônimo8:48 AM

    Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Anônimo8:49 AM

    Bom texto. Saúde é o que te desejo. Só fiquei triste de saber que só as lágrimas da moça de Fortaleza é que te animam a não parar. Eu é quem vou parar de te ler e comentar, já que não choro. srsrs

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  3. Mauro, meu amigo virtual, você me deixou sem palavras. Como expressar meu agradecimento e tamanha felicidade pela singela homenagem? Não sei, mas fico aqui com a alegria de ter conquistado o amigo escritor que eu admiro tanto. (:

    "Há braços" =)

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  4. Natália3:31 PM

    infelizmente não te conhecia até você citar a minha amiga querida e ela me passar o link do seu blog. agora, o blog está devidamente salvo na minha barra de favoritos, pra sempre te fazer uma visita quando o trabalho estiver enfadonho demais! parabéns! =)

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  5. A Elaine compartilha - da forma mais encantadora - as coisas boas e lindas dessa vida. E olha que eu a conheço há poucos dias, nem sou tão suspeita assim para falar isso. A exemplo, compartilhou comigo seu blog. Tu ganhaste a Elaine como amiga e me ganhaste como leitora. Tens toda razão, a literatura tem dessas coisas.

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  6. "Porque é infinita a dignidade de uma mulher que chora em silêncio."

    "A literatura nos conecta, seca as lágrimas, cura a gripe."

    Vou dormir com a beleza dessas palavras *.*

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  7. por que parar
    parar porque
    se tem tanta gente
    que lê você.......

    porque....etc etc,,,,,
    estribilho

    a musica tu põe a noite usando o piano que vi em sua casa.......

    na letra sugerida usei "você" ao invés do "tu"
    por rimar melhor......

    haja braços....

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  8. Sérgio L. B.4:17 AM

    Êta gripe que se expandiu do Sul ao Nordeste!

    Na tua [breve] enfermidade, perdeste a 'féria' Mauro, mas ganhaste novos admiradores e leitores 'lá de cima do mapa', e isto tem muito mais valia.

    O blog 'Três Paredes' agora faz parte dos meus 'favoritos'.


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  9. Espero que esteja melhor agora. É difícil parar de escrever um blog. Tornou-se como um dos seus filhos. Ele também permite que você para liberar vapor!!

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  10. Parabéns pelos dez anos de coluna e de blog. Desde que comecei a ler o Taxitramas, nunca mais olhei um taxista do mesmo jeito. Sempre acho que ele pode estar com um bloquinho de anotações escondido e que contará - ou imaginará - a minha história em um blog.
    E parabéns também pelo texto de hoje. Muito bom!
    Abraço!
    Maykon

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  11. E você não perdeu a chance de escrever sobre o choro da menina, mesmo nao o tendo presenciado...

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  12. Anônimo7:57 PM

    É difícil imaginar o que um taxista poderia dizer a uma passageira que chorasse em silêncio... A maioria sairia com frases feitas, lugares comuns, pois quantos tem a sensibilidade de um escritor? Eu choraria ainda mais, de raiva... rsrsrs

    Silvia

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